Infância roubada (Salustiano Souza)

 

Infância roubada

 

O troar de luzes o faz estremecer,
Olhos de menino na janela de assombro,
A rua destroçada, cenário a se perder,
Na mente a lembrança, à vista, só escombro.

Mãe ausente, eco vazio na memória,
O pai, num canto, alma acabrunhada,
Irmãzinha chora, lamuria pequena história,
Lágrimas que se esvaem, uma vida roubada.

Lá fora correm turbantes enfurecidos,
Homens barbudos, fuzis em riste,
A paz, um sonho há muito esquecido,
Num mundo onde a infância não existe.

Seu quintal, agora uma cratera,
Onde rosas antes ousavam florir,
Um triste vazio que a alma dilacera,
Na eterna saudade de um tempo a se ir.

O menino, com seu olhar triste, perdido,
Busca alento no céu, quiçá resquício de cor,
Em meio ao caos, dilacera um desejo contido,
De brincar no quintal, sorrir, esquecer a dor.

As paredes sussurram segredos do passado,
Histórias de risadas, danças, dias de sol,
Agora, apenas ecos de um tempo guardado,
Na esperança de melhor futuro, luz de farol.

Mas a guerra, estúpida, impiedosa e fria,
Rouba-lhe a infância, o direito de sonhar,
E, mesmo latejando dores em agonia,
Tudo o que evoca em sonho é poder brincar.

Oh, menino, que o amanhã te traga paz,
Que a vida floresça incólume em teu quintal,
E que o amor, presente que nunca se desfaz,
Te devolva a alegria, o riso pueril e original.

 

Salustiano Luiz de Souza

Outubro/2024

 

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