Jura Arruda – Discurso de posse

É dos olhos que nascem as histórias. É da forma como repousamos o olhar sobre a coisa vista, que a coisa vista se transforma e ganha novos significados. É do olhar amigável que nascem as oportunidades mais sublimes.

Agradeço os olhares do presidente desta casa, Carlos Adauto Vieira e de minha querida amiga, Raquel S. Thiago, que estimularam meu ingresso na Academia Joinvilense de Letras. Agradeço igualmente aos membros que acolheram meu nome para ocupar a cadeira que já pertenceu a Hans Bachl, bávaro que chegou ao Brasil na década de 20 e que bem poderia ter sido parceiro de viagem do Fritz, o sapo alemão que abriu as portas da literatura para mim.

Tenho apreço por identificar em coincidências sinais, talvez por trazer em mim uma certa alma dramática, no sentido mais literário do vocábulo. No caminho até aqui, venho identificando alguns sinais.

Hans Bachl colaborou em jornais e revistas, com crônicas, poesias e material de pesquisa histórica. Veja que também colaboro com crônicas em jornais e revistas; Não ouso, no entanto, a pesquisa histórica, nem a poesia.

Hans nos legou uma obra humanitária e de crença sincera no eterno, como escreveu nosso Secretário-geral, Paulo Stricker da Silva. Também creio na eternidade, ainda mais se me dão o título de imortal.

Com trabalhos como “A Estrada Dona Francisca” e “Nos Bastidores da Maçonaria”, publicado em 1976, Hans Bachl se tornou um dos escritores que ajudaram a sedmentar a história da cidade.

Sua cadeira está eternizada, Hans. Ao ocupá-la, pretendo não esquecer de sua crença na humanidade, ainda que esta insista em colocar à prova nossa esperança.

Coube a mim, por força do estatuto da Academia e, suponho, por alguma energia generosa do universo, (Quiçá mais um sinal) escolher o patrono da vaga que ocuparei. Dentre os nomes avaliados, saltou-me os olhos e não tive dúvidas em escolher, Ignácio Bastos, que viveu entre o final do século XIX e o início do Século XX, fazendo de sua existência um instrumento em favor da informação e da arte. Jornalista, poeta, contista e teatrólogo.

Ao escolhê-lo como patrono, de alguma forma insiro-me em sua história, forço aqui, carrego na tinta ali e encontro novos sinais: Jura Arruda se assemelha a Ignácio Bastos quando estuda jornalismo, escreve contos e escreve para teatro.

Mais adiante, a biografia revela que Ignácio Bastos instalou em Joinville a primeira biblioteca de autores brasileiros do município. Ora, mais um sinal!

Em tempos que sabemos, a literatura concorre com impiedosos atrativos, o imediatismo e a superficialidade de uma época em que possuir bens encobre ignorâncias, ouso crer. Ao citar a biblioteca de Ignácio Bastos, evoco a magia que se dá na abertura de um livro, quando encontramos a mente do escritor ali, indelével e imortal. Mais uma vez estou falando do olhar e de sinais, que se dão no encontro tácito entre escritor e leitor, quando a leitura nos oferece rios caudalosos e margens acolhedoras.

É por acreditar na força da palavra escrita e no prazer que há em lê-la, que nos reunimos em associações, confrarias e academias. É porque a alma precisa ser hidratada com ideias e o peito alimentado com encontros, que ousei a inscrição.

Encerro gastando todo meu latim para citar o lema da Academia, proposto em 1971, ano em que nasci. Sinal! Pelo então presidente, Adolfo Bernardo Schneider: “Domus Amica, domus Optima”, ou em bom português, “Uma casa amigável é a melhor casa”.

Muito obrigado.

 

 

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