LUCINDA CLARITA BOEHM – Fundadora
Cadeira 8
LUCINDA CLARITA BOEHM (*1932 +2017)
Patrono: Carl Wilhelm Boehm.
Lucinda Clarinda Boehm era advogada, Doutora em Direito pela UFSC, título obtido com a tese “Uma Análise Crítica do discurso jurídico: os sentidos implícitos na linguagem dos livros didáticos de introdução ao direito”. Esta tese deu origem ao seu livro, com o mesmo título.
Era Mestre em língua inglesa e literatura, também pela UFSC e pós-graduada em Ciência Jurídica, pela Univille/UFSC.
Por muitos anos foi professora de língua e literatura inglesa, no curso de Letras da Univille. Também lecionou Sociologia Geral, Metodologia e Língua Portuguesa no curso de Direito da Univille. Lucinda coordenou cursos de pós-graduação, o Programa Magister, o curso de Tecnologia em Processos Industriais e o Programa Fórum de Estudos e Debates sobre a Violência Urbana, desenvolvendo pesquisas nesta área. Por muitos anos foi Procuradora da Prefeitura de Joinville. Foi jubilada pela OAB subseção de Santa Catarina.
Lucinda era simpática, doce, falava manso e nunca parou de trabalhar. Aos 84 anos prestava assessoria no escritório modelo de assessoria jurídica da Univille, vinculado ao curso de Direito, e integrava o comitê de Ética em Pesquisa da Universidade.
Na década de 1950 Lucinda foi colunista social do jornal A Notícia, usando o pseudônimo “Luciene” e por tempos escreveu anonimamente para o jornal. Frequentava as festas e os eventos, gravava a crônica na memória e escrevia depois em casa. . Na juventude foi também campeã estadual de vôlei. Nunca quis ser chamada de “Dona Lucinda”, só Lucinda. Modesta, era difícil chegar a ela para uma entrevista e revelar a história da padaria Brunkow, de propriedade de seu pai Eugênio Boehm, que marcou época na cidade
Independente em uma época em que as mulheres não ousavam ser, ela se formou advogada e escolheu nunca se casar ou ter filhos – embora tenha vivido, sim, um grande amor, por anos. Adorava borboletas e tinha várias delas enfeitando seu apartamento. Era uma pessoa de pequenas delicadezas e dona de uns olhos azuis de brilho intenso, que chegaram ao fim sem nunca envelhecerem.
Já depois dos 80 anos, Lucinda Boehm estava longe de parar. Ao menos três vezes por semana, atuava no escritório modelo do curso de Direito da Univille. Além de tarefas administrativas, auxiliava estudantes e estagiários na lida com os processos judiciais. Fora do expediente, sessão de fisioterapia, tai-chi-chuan, acupuntura e reiki, entre outras atividades, completavam sua rotina. Tudo a pé ou de ônibus.
“Eu me sinto, no máximo, com 60 anos”, conta, esbanjando bom humor, vitalidade e sabedoria. Parte da longevidade ela atribuía a um hábito sagrado: leitura. “Quanto mais você lê e mais conhecimento você adquire, mais você aprende a viver”, ensinava. Outra parte está ligada ao apreço pelo trabalho, cultivar coisas boas e bons relacionamentos. “A idade não deve ser a preocupação principal. O importante é se dedicar ao máximo ao que você gosta de fazer e se manter ativo”, completa.
Lucinda usava marca-passo já há algum tempo, resultado de um grave problema de saúde. Recuperada, ela diz estar preparada para chegar e passar dos cem. “Eu gosto da vida e quero chegar ainda mais longe. Levo uma vida normal e sem excessos. O trabalho para mim é lazer, uma terapia que me deixa alerta”, ressaltou.
Com 84 anos ainda se mantinha ativa. Caminhava, trabalhava na Univille, tinha planos de escrever mais alguns livros – um deles já em fase final de produção, e outro sobre a colunista Luciene.
Mas um dia o fim chega para todos nós. Porém, feliz de quem vai, deixa uma história que pode ser contada com admiração e carinho pelos que ficam.
Lucinda era membro-fundadora da Academia Joinvilense de Letras e faleceu no dia 23 de junho de 2017. Dias depois foi realizada a “Sessão da Saudade” em sua homenagem, como é de praxe nas academias do gênero. Deixou para os acadêmicos a imagem dos seus lindos olhos azuis e seu doce sorriso como lembrança.
(Pesquisa e redação de Nelci Seibel)
Referências
DIAS Cristina. Matérias em A Notícia.
Fonte da imagem: Jornal “A Notícia” – Edição “Joinville 160 Anos”, página 06, de 09/03/2011, também com acesso em http://edition.pagesuite-professional.co.uk/launch.aspx?referral=mypagesuite&pnum&refresh=Gw6017Fd2Ko0&EID=1b99534c-f17b-4e0b-9b2c-cfc3afb719c9&skip