Não gosto desse nome (Donald Malschitzky)
Não gosto desse nome
Donald Malschitzky
Não creio que fosse por falta de assunto, pois os havia em abundância na época, mas ficou por um bom tempo nos noticiários de meados dos anos 1970: o plebiscito da população de uma cidade do Rio Grande do Sul que queria porque queria que o município fosse rebatizado com o nome original: Não-Me-Toque, que ostentou de sua fundação, em 1954, até 1971, quando mudou a denominação para Campo Real, por causa das humilhações que sofriam os habitantes de Não-Me-Toque.
Originário do nome de uma fazenda na localidade e também da planta comum no lugar ― abundante também em nossa região, é remédio para várias doenças e, a qualquer toque, murcha ―, a população resolveu manter a tradição, e o plebiscito varreu o Campo Real de seus campos, deixando claro: “Não-Me-Toque”.
A moda de mexer nas denominações de cidades vem e vai com certa frequência, de acordo com caprichos ou necessidades de personalidades políticas ou econômicas. Ou de acordo com seu ego. Perto de três mil ruas, praças, e prédios públicos do Brasil levam o nome de Getúlio Vargas, muitos batizados quando ele ainda vivia, como a Praça dos Imigrantes, de São Bento do Sul que mudou o nome para Getúlio Vargas por volta de 1937. Aliás, São Bento do Sul já pulou de São Bento para Serra Alta, voltou para São Bento e recebeu a referência geográfica “Sul” para diferenciar de outras localidades com o mesmo nome.
Usando o argumento de que Barra Velha é um nome que não condiz com sua pujança, pois seu progresso é coisa de jovem, o empresário Luciano Hang propõe a mudança da denominação da cidade. Dá várias sugestões, mas o foco é tirar a palavra “Velha”. Nem vamos falar de etarismo, mas é bom olhar para a história da denominação: uma tese é que a barra do Itapocu, antigamente, era na região onde hoje é a Praia Central, lugar onde o povoado foi se fazendo. A barra foi assoreando e a vazão passou a se deslocar para o norte, onde se encontra hoje. Ficou a barra velha.
Registros de 1861 chamam o local de Freguesia de São Pedro de Alcântara e Nossa Senhora da Conceição de Barra Velha. Qual é o gentílico de quem nasceu ou viveu lá?
Façamos de conta que o nome da cidade vai ser mudado. Que tal arrumar uma encrenca e escolher um que já existe? Algo como: Anta Gorda, Xique Xique, Passa e Fica, Passa Quatro, Varre Sai, Arroio dos Ratos, São Miguel do Gostoso, Coité do Nóia…
Se posso opinar, prefiro Barra Velha, onde, aos dez anos, pela janela do ônibus, vi o mar pela primeira vez.