Nascerão das cinzas (Donald Malschitzky)
Nascerão das cinzas
Donald Malschitzky
Animais abandonados são comuns nas ruas de muitas cidades. Sozinhos, em pequenos ou grandes grupos, dependendo da existência, ou não, de uma cadela no cio no meio deles, perambulam em busca de comida, abrigo e atenção. Há p(essoas que os aceitam e procuram ajudar, já, outros, se irritam e chegam a maltratá-los. Dizem coisas como: “Animal tem que ficar preso em casa e não andar na rua”. Embora com um fundo de razão, é uma visão superficial de um problema que tem raízes na falta de empatia humana.
Poucos entendem que esses animais não nasceram espontaneamente do chão, mas foram abandonados por tutores irresponsáveis e inconsequentes que, por egoísmo, ignorância ou, até maldade, resolveram se livrar deles.
Por trás de cada animal abandonado, há seres humanos, como também acontece por trás do cuidado e do resgate deles. A diferença é a qualidade desses seres humanos: aos primeiros, falta dignidade, aos segundos, sobra empatia. São esses segundos que, ao adotarem um animal, cercam-no de cuidados e carinho e, muitas vezes, ainda se dispõe a acolher aqueles que vivem à deriva e, quando não têm condições de adotá-los ou fornecer abrigo temporário em suas residências, dedicam-se a alimentá-los e, até, oferecer casinhas para que se abriguem.
Voltemos aos primeiros: por uma incapacidade de visão e de caridade, é comum que odeiem os segundos, pois estes estão em um patamar inalcançável para sua mediocridade. Simplesmente, não conseguem suportar quem tem bom coração.
Dia desses, uma cena entre ridícula e estarrecedora aconteceu perto de casa: uma pessoa alimentava cães de rua e foi duramente reprendida por uma mulher que passava por ali. Ela tem histórico: perto dali, mora uma matilha de caramelos mansos e carinhosos. São alimentados por moradores e, há um tempo, receberam casinhas de presente. Inexplicavelmente, pessoas que nem moram próximas ao local, se indignaram e ameaçaram tirar as casinhas de lá. Entre elas, a mesma agressora verbal da cena acima. Deu um bafafá nas redes sociais e, lá pelas tantas, ela escreveu que o problema já estava resolvido. No dia seguinte, as casinhas tinham virado cinzas.
Alguém “resolveu” o problema.
