Noite alta (Milton)

NOITE ALTA 

 MILTON MACIEL

Noite alta…

Pés indecisos inscrevem pelas ruas,

uma ambígua, bizarra caligrafia,

de passos bêbados, incertos, oscilantes.

 

Tristes mulheres, pobres, seminuas,

enregeladas sob a névoa fria,

tentam vender seu corpos excitantes.

 

Desaba a noite sobre todos os cansaços.

E esmaga – os corpos derreados, lassos –

seres moídos de desesperança.

 

E, quanto mais a madrugada avança,

mais tange um tempo que é de solidão.

É então que, no desolado dos seus lares,

homens vazios sonham sonhos singulares,

cheios de tédio e de desolação.

COMPARTILHE: