Noite memorável para a Academia
Sobre a noite de ontem:
A noite, por si só, já tem uma magia toda própria, e ontem não foi diferente. Mas,
pensando bem, foi diferente sim! Tivemos uma noite “superlativa” no “Salão dos
Espelhos”, no térreo da Sociedade Harmonia-Lyra, em que as energias e vibrações de
um grupo especial de amigos transformou cada fala, cada abraço, cada gesto de carinho
em algo que nos marcou a todos.
Impossível não lembrar quão grande grupo pudemos ver diante de nós! O falecido
Acadêmico João Carlos Vieira, nas suas colunas diárias no jornal “A Notícia”,
certamente teria escrito: “Nomes de ‘A’ a ‘Z’ do nosso grand monde disseram ‘sim’ ao
evento, que ficará marcado nos anais da Aristocrática”. Assim era João Carlos. No caso,
os membros da Academia são o nosso, muito nosso, “grand monde”, e “Aristocrática”
era como ele se referia à Lyra.
Nem sempre é fácil reunir os quase 40 membros efetivos da AJL, seja por questões de
saúde, de compromissos pré-assumidos ou de distância geográfica. Mas ontem, mais da
metade dos membros efetivos da Academia Joinvilense de Letras compareceu ao
lançamento do novo livro do mestre Ronald Fiuza: “Não sei e não saberei jamais”! Não
posso deixar de mencionar que o grupo dos membros-honorários da Academia
novamente fez bonito, com 100% de presença: Cauduro e eu! Às favas a modéstia, mas
a categoria de membros honorários é um exemplo para os membros efetivos e para os
membros correspondentes que, ouso dizer, jamais alcançarão o nosso “recorde” de
presença!
Preambularmente, cabe recordar (já com um gosto de saudade) os 3 números musicais
apresentados pelo genial Douglas Hahn e pelo não menos brilhante pianista Mateus, que
trouxeram uma dose extra de emoção a uma noite que apenas estava iniciando.
Seguiram-se as falas dos presentes e todas elas foram “cirúrgicas” (palavra apropriada
para o lançamento do livro de um médico!).
Maria Cristina trouxe uma faceta do Fiuza que cada um de nós já experimentou: a da
generosidade, da acolhida, do impulso, da energia, que Fiuza tem trazido a todos e a
cada um de nós em diferentes momentos, desde o feliz instante em que se tornou mais
um amigo na Casa dos Amigos. E acrescentou sua disposição para fazer o que parecia
ser de difícil resolução: como o site da Academia e a biblioteca digital. Nesse momento,
acrescentei a frase famosa e que se aplica ao Fiuza: “por não saber que era impossível,
ele foi lá e fez!”.
Simone Nascimento rememorou fatos marcantes da sua vida familiar, onde Fiuza trouxe
a orientação certa no momento certo: emocionada, nos emocionou a todos! Tutti
recordou do tratamento certeiro ministrado por Fiuza quando necessitou do médico que,
com o tempo, tornou-se não só um amigo como, também, um confidente, a ponto de
ajudá-la de forma decisiva numa questão profissional importante. Mas ao falar sobre
ele, Tutti nos fez perceber o que já sabíamos, ou seja, que a generosidade de um é
também percebida no outro.
Dando um tom de leveza ao momento, Da. Else se juntou a Fiuza e, lado a lado, com a
ternura e a doçura que lhe são peculiares, declamou um poema de sua autoria extraído
de um conto infantil sobre um desfile de moda promovido por uma girafa.
O professor Antonio Müller traçou um paralelo valioso entre uma obra anterior de Fiuza
e a dele próprio, ambas discorrendo sobre a consciência mas sob óticas diferentes,
porém, complementares. E sem que um soubesse do trabalho do outro, num verdadeiro
encontro de almas entre dois homens sábios que, na Academia, se descobriram amigos!
Nosso outro amigo, Cauduro, foi breve ao falar mas, lembrando do governador Luiz
Henrique, que considerava um bom discurso aquele que é curto, trouxe um alívio a
todos: se o próprio Fiuza, que lançava uma obra a respeito da algumas das nossas mais
instigantes questões existenciais, reconheceu que não saberá jamais as respostas, quem
de nós saberá?
O Acadêmico Rodrigo Bornholdt leu uma mensagem transmitida por Fiuza a ele num
acontecimento recente dentro da Feira do Livro de Joinville, em que ambos deveriam
comparecer. E houve, enfim, a fala do Dr. Xuxo, que em parte representava seu irmão, o
Acadêmico José Carlos Vieira, impossibilitado de se fazer presente, e em parte viera
para abraçar o amigo de longa data. Ao mencionar aspectos da trajetória profissional de
ambos, destacou algo que os uniu e une: a generosidade, o pioneirismo e o tratamento
humanizado que sempre dedicaram aos pacientes e que, a bem da verdade, acabaram
por estender a todos os demais, pacientes ou não. Emocionada, a filha de Fiuza deu o
fecho que faltava à sequência de pronunciamentos.
Complementando, Fiuza se dirigiu a todos e fez um resumo do que experimentara até
ali: desde a apresentação musical, que incluiu árias extraídas do “Rigoletto”, de Verdi,
que aprecia desde sempre, até os depoimentos sinceros dos amigos presentes. Finalizou
com uma breve explanação sobre a obra que estava lançando e os desafios na criação da
mesma.
Veio, em seguida, o momento dos autógrafos, com dedicatórias inspiradas do amigo
Fiuza que, sendo grande, fez-nos sentir grandes como ele. Em mais um gesto de
generosidade, a todos entregou graciosamente um exemplar de sua nova obra. Tudo
capturado pelas lentes da Acadêmica Bernadete Schátz Costa, uma mestra na arte de
bem preparar um evento e de bem acolher a todos.
O Café Acadêmico, logo após, foi a cereja do bolo! Cada membro da Academia
contribuiu com algum quitute precioso. Mas Onévio Zabot me deixou em dúvida: ao
trazer consigo uma garrafa de cachaça (produzida pela família Cercal desde 1786) e
uma garrafa de licor (produzida pela família Lütke desde 1886), ambas joinvilenses,
será que, após assumir a presidência da Academia, irá transformar o Café Acadêmico
em Cachaça Acadêmica? A se pensar… E um alerta para nossa futura vice-presidente
Simone Gehrke: café ou cachaça? Temo pela resposta!
Pelo sim, pelo não, os Acadêmicos Antônio Müller e Rodrigo Bornholdt, que ainda não
se conheciam, tiveram sua oportunidade e embarcaram numa longa e proveitosa
conversa. Não quero ser perverso, mas a Cachaça dos Cercal parece ter contribuído para
essa aproximação.
O Guto, filho da nossa presidente, foi uma decepção: pela primeira vez não nos brindou
com nenhuma anedota! Como todos sabem, isso não é aceitável! Deixo aqui minha
“moção” de advertência a ele.
O amigo Jura Arruda esteve lá conosco também! Com sua afabilidade de sempre, ao se
fazer presente trouxe, por si só, um brilho a mais a uma noite já tão brilhante. Da. Else
cumpriu à risca o prometido: trouxe sua famosa Torta de Maçã e me conquistou ainda
mais por ter despejado, nada menos, do que 3 fatias no meu prato! Claro que eu não
gostei! Nem sei se vou perdoá-la por isso. Nelci, que se diz minha noiva, ficou
enciumada! Até saiu mais cedo, na companhia do David! Tudo bem… não sou ciumento
mesmo!
Hilton trouxe sua adorada paçoca de amendoim: mas confesso que não pude aproveitar
por um motivo muito simples, que quase ninguém sabe… sou alérgico a amendoim!
Lufiego, de quem vou sempre recordar como nosso brilhante professor de História do
ensino médio, esteve mais uma vez conosco, vindo do litoral onde mora. Cabe aqui
abrir um parêntese e lembrar que, no próximo domingo, o lançamento de uma nova obra
estará a cargo dele, mas em Piçarras.
Marinaldo era pura emoção por fazer parte de um momento importante na vida de
alguém a quem admira tanto: nosso mestre Fiuza.
Beth Fontes, ao revelar que nasceu na cidade mineira de Leopoldina, não a imperatriz
mas sua neta homônima, admitiu que se sente em casa na cidade fundada em terras que
pertenceram à tia da “sua” Leopoldina: a “nossa” Francisca (que agora é dela também).
Foi o que bastou para Reginaldo discorrer sobre aspectos da vida da princesa de
Joinville, com uma familiaridade tal que suspeitei ser ele um desses “viajantes do
tempo”. Por falar em viajante do tempo, Walter Guerreiro sempre impressiona com um
cavalheirismo, uma educação, uma gentileza tão próprios dele, o que nos faz acreditar
que ainda existe fidalguia num mundo tão confuso como esse em que vivemos.
Há, certamente, muito mais a ser recordado e registrado. E nessa hora percebo a falta
que fazem as atas que Da. Else redigia nos Cafés Acadêmicos, pois só as fazemos nas
reuniões ordinárias. Que esse texto escrito às pressas sirva como um registro de mais
um momento feliz da nossa convivência numa casa que, a cada dia, mais e mais faz jus
ao título que desde 1969 nos acompanha: o de “casa dos amigos”, que é, mesmo, a
melhor casa.
Paulo.