Novas estradas (Zabot)
NOVAS ESTRADAS
Wilson desenha barcos
no quintal de casa,
depois os leva à Lira
em plena luz do dia.
Ninguém o esperava no céu,
pois apenas aves sombrias
reservam-se às madrugadas.
Ora, espreitar cordilheiras
quando menos se espera abraça-las.
Ao espreita-las, no entanto,
Hércules recua…
Insidiosas embarcações.
Se por ele ninguém esperava,
Então porque voam essas aves bastardas?
Mas Wilson lá está…
batidas leves na porta do céu.
Bate à porta, e bate,
e com que carinho!
São Pedro acorda.
E cordato ao reconhece-lo:
– Entre Wilson…
Enfim uma alma boa
à boa prosa.
Bem-vindo, ó irmão,
irmão de Santa Dulce dos Pobres
lá da Bahia.
Olhares à premonição
revelam-se ao encanto.
São Pedro insiste…
Trouxeste acaso aquela rede de malha larga…
Eterna pescaria.
Mares e lagoas
não faltam por aqui.
– Ora, as redes…
E deu tempo de apanhá-las!
………………………………………….
E choram aos prantos
os amigos de academia.
Uns de tristeza,
outros de alegria.
Afinal, todos lá estaremos
um dia,
bradam ensandecidos.
Uns de manhã
outros de madrugada,
e outros saber lá a que horas,
ó Deus, e se por encomenda!
E isso por acaso importa?!
Doidices desvairadas
não amparam vitrais.
De braços dados
disfarçar-se o tempo,
tempo que reserva à solidão do mundo.
Enaltecer ao verbo,
ó ingrata desventura!
Outras luzes,
novas estradas…!
Eterna saudade.
Onévio Zabot
Ao colega Wilson Gelbecke, dezembro, 2019