O acadêmico Zabot recomenda: “Médico de homens e almas”, de Taylor Caldwell
Taylor Caldwell – escritora de ascendência escocesa – levou 46 anos para escrever o livro: Médico de Homens e de Almas (58° Edição, editora Record, 2015). Discorre sobre o evangelista São Lucas. A leitura das 699 páginas é algo apaixonante. O cenário: o Império Romano no tempo de Cristo.
Lucano (hoje Lucas) – de origem grega -, foi um dos primeiros gentios (não judeu) a converter-se ao cristianismo, embora jamais tenha estado com o Mestre. Era filho de escravos libertos, Eneias e Isis. Destacou-se pelo aspecto físico: alto e forte, e pela inteligência; mas, sobretudo, pelo senso de humanidade: jamais se curvou à escravidão. O privilégio: conviver com Keptak, médico-escravo de origem egípcia a serviço de Diodorio Cirino -, governador romano na Síria: centurião de ética inquestionável.
De Keptak – liberto por Diodorio -, adquire profundo respeito pelas pessoas, em especial, as mais humildes. Embora jovem, auxilia Keptak no atendimento aos pacientes. À época, Alexandria se destacava como centro de formação médica. Diodorio Cirino, percebendo a sua vocação, banca seus estudos.
Enquanto estudante chama a atenção não só pela dedicação à medicina, mas também à matemática, à pintura e às artes em geral; além dos esportes. Celibatário, intriga o meio acadêmico. Esquiva-se das festas e bacanais, comuns na época.
Uma vez formado, recusa convite de Tibério Cesar, imperador romano, para exercer cargo de relevância na área da saúde, em Roma. Preferiu continuar a atender os desamparados; daí ser questionado pela classe médica, dada sua benevolência como os desprovidos.
No entanto, pela sua competência, era assediado por ricos e abastados, o que lhe garantia renda extra. Em relação a estes, não raras vezes, buscava não apenas reparar os males físicos, mas também da alma – comuns na classe rica. Percebe que além do mundo físico, há uma dimensão espiritual, e que está se ampliava sobremaneira ao internalizar a mensagem de Jesus. Certa feita, deparando-se com um colega médico leproso – sentindo-se impotente -, evoca forças sobrenaturais; e o cura. Milagre. Sua fama se espalha.
Como cidadão romano, circulava livremente. Despachou com Tibério – o imperador -, e com Herodes e Poncios Pilatos, e a todos maravilhou pela inteligência e renúncia. Fato relevante: a cura milagrosa de Prisco – filho de Diodorio, seu tutor na infância -, que comandou a via-crúcis – a crucificação de Cristo. Estranha coincidência, Prisco pressentira que Jesus era inocente, e isto o atormentava. Lucano argui:
– Terias que cumprir esse papel. Foste o escolhido; estás perdoado.
Depois de incansáveis viagens – e após tudo o que viu e ouviu, e de visitar Maria, a mãe de Jesus na galileia –, torna-se cristão. Como escritor é detalhista: registra fatos e acontecimentos; e, como pintor, dispõe em tela o semblante puro e sublime de Maria.
Médico de Homens e de Almas -, é, sem dúvida, um clássico. E o evangelho de São Lucas – a exemplo dos demais -, uma leitura indispensável.
Onévio Zabot