O mito do escritor
Entrou nele, não sai mais.
Dia a dia terá de batalhar
com as letras, compondo-as
de frente pra trás, de trás
para a frente até encontrar
o justo sentido
na medida certa da forma.
Perderá o sono
e quebrará a cara
incontáveis vezes.
Mas não desistirá.
A escrita o domina por inteiro.
Faz de conta, porém, que ele próprio
é o senhor de tudo
e as frases, concubinas;
às vezes, súditas.
Um dia, morre – que todos morrem –
e sequer saberá que morreu.
Mais do que nunca, estará
na mão de todas elas,
da vida que pôs
em tudo que escreveu.