O Pontiac Torpedo (Paulo)
O Pontiac Torpedo
Paulo Roberto da Silva
O ano de 1969 se encaminhava para o fim e lá estava eu, com quase 3 anos de idade, no centro de Joinville com minha mãe. Eu ainda não sabia, mas aquele seria o meu último ano na condição de “filho único”!
No retorno para casa, caminhando pela rua do Príncipe, passamos defronte à imobiliária do meu tio (que também era meu padrinho de batismo) e resolvemos parar para uma rápida visita. A “Imobiliária Cacique”, dirigida por ele, fora fundada por meu tio em março de 1951 e guardava a condição de ser pioneira na cidade nesse ramo de atividade. Meu pai, aliás, contava que, no Banco de Crédito Real de Minas Gerais, onde trabalhava, na rua Nove de Março, a certo dia começaram a chamá-lo de “Pajé”: intrigado, perguntou aos colegas do Banco o porquê do “Pajé”? E a resposta veio rápida: “Se teu irmão é o Cacique, você deve ser, no mínimo, o Pajé!”.
Mas enfim, voltando a 1969 e terminada a visita ao meu tio, ele nos ofereceu uma carona até em casa, ao que minha mãe decidiu aceitar. Seu carro, um Pontiac Torpedo “Streamliner”, estava parado junto à calçada, logo em frente ao seu escritório. Era um veículo grande, cinza, com 4 portas, pneus faixa branca e uma transmissão hidramática. Sobre a ponta do capô dianteiro, uma cabeça em metal retratava o rosto do Chefe indígena Pontiac, da tribo norte-americana. Enfim, o carro era uma joia!
No entanto, aquele automóvel grande me assustava. Olhei para ele, rente ao meio-fio, e reparei que, a partir do teto, a lataria descia lentamente até alcançar o parachoque traseiro formando um grande arco, e não sei porque aquilo me incomodou. Mesmo assim, meio relutante, aceitei entrar no carro… No entanto, quando meu tio abriu a porta de trás para que eu tomasse assento e, diante dos meus olhos, apareceu aquele interior imenso com todos os estofamentos na cor vermelha, aquilo simplesmente me apavorou! Comecei a gritar e espernear, agarrei-me à minha mãe e, apesar dos apelos dela e do olhar assustado do meu tio, nada nesse mundo me convenceu a entrar ali! Eu era pequeno mas… quando eu dizia “não”, era um “não” definitivo!
Talvez aquele excesso de vermelho deva ter parecido uma “filial do inferno” para a criança minúscula que eu era, e até hoje não sei explicar a razão daquele pânico todo. Hoje, vendo fotografias, acho o velho Pontiac um carro e tanto, digno de colecionador.
Sem outra alternativa, minha mãe se despediu e nós dois voltamos caminhando para casa…
No ano seguinte, meu tio trocou o Pontiac por um Ford LTD, também hidramático: esse carro, apesar de imenso, nunca me assustou, pelo contrário. O problema deve ter sido mesmo o bendito estofamento vermelho!!
Nas fotos abaixo, encontradas na internet, a imagem de um veículo idêntico àquele, só que em preto ao invés de cinza. E a cabeça em metal do Chefe Pontiac sobre o capô dianteiro.
Uma reminiscência de mais de 50 anos daquele que foi o primeiro “medo” de que me lembro. Semelhante ao que senti, tempos depois, na primeira vez em que andei a cavalo: a todas as crianças era dado um pônei mas, porque só para mim entregaram um cavalo do tamanho de um mamute? Mas isso é outra história.
Fontes das imagens:
http://theclassicpontiac.com/car-images/48-Streamliner-8-4D.jpg
https://images.saymedia-content.com/.image/c_limit%2Ccs_srgb%2Cq_auto:good%2Cw_640/MTc0OTYxMzMwNDY4ODI0OTM0/hood-ornaments.webp