O que, mesmo? (Donald Malschitzky)
O que, mesmo?
A Feira do Livro de Joinville começou no dia 1º e vai até dia 11. No meio da vasta e boa programação, no domingo, tive o prazer de participar de uma roda de conversas de integrantes da Academia Joinvilense de Letras, em que cada um falou de sua experiência como escritor. Por ser o gênero que anda a tiracolo comigo por muitos anos e que me aproxima do leitor a cada semana, falei um pouco sobre minha relação com a crônica. De improviso, esqueci de mencionar alguns segredos dessa relação. Na esperança de não ser um chato ou, sendo, poder contar com a bondade do leitor, tomo a liberdade de destrinchar alguns detalhes.
Qual o assunto? Para quem escrevo? Espero algum tipo específico de reação? Qual? Essas são perguntas que é aconselhável fazer antes de começar a digitar, sob pena de haver mais narizes torcidos do que aplausos. Respondido isso, dá para iniciar, quem sabe, com o título para seguir uma linha coerente, ou com o texto em si, deixando que o título nasça no decorrer da escrita.
Tem vezes que está quase tudo na cabeça e sai de uma maneira fluida, mas tem outras em que o texto se esconde, mostra a língua, se agarra a um neurônio que não se liga com os outros, e a tela mira você como se apontasse um dedo acusador para sua incompetência.
Fazer uma lista, mesmo que desorganizada, dos assuntos que pretende abordar, ajuda muito. Para fazê-la, existe uma palavra mágica: pesquisa. Em livros, Internet, naquilo que um dia você escreveu e uma coisa que ainda funciona; telefone: ligue para quem conhece mais do que você sobre aquele assunto. Essas conversas viram “lata de caranguejos”; um assunto puxa o outro e aprende-se muito mais do que se esperava. É claro que, para isso, uma boa dose de cara de pau é necessária, mas, depois que se começa, o pessoal se acostuma ou finge que não se importa…
No ano passado, o que era para ser apenas uma crônica de indignação com a ousadia burra da Câmara dos Deputados em aprovar um Projeto de Lei proibindo a mudança de qualquer palavra da Bíblia no Brasil, acabou num documento muito esclarecedor, em duas crônicas, graças à ajuda de teólogos e outros estudiosos. Depois das crônicas publicadas, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil, lançou uma nota com o mesmo conteúdo, embora mais profundo.
Feito, agora é só cuidar da linguagem, sabendo respeitar tanto a simplicidade quanto a bagagem do leitor, e surpreendê-lo. Ou surpreender-se.
Donald Malschitzky