Origens da maçonaria catarinense (Lufiego)

ORIGENS REMOTAS DA MAÇONARIA CATARINENSE

IDADE MÉDIA – MAÇONARIA NA ALEMANHA –  “BRUDERSCHAFT DER FREIMAURER”

Por Marcelo Lufiego

A Arte Real[1] é um fenômeno europeu. Raízes institucionais mais profundas não serão encontradas além da Europa. Na linha do tempo, elementos comuns, ligados ao processo iniciático e ao conhecimento esotérico, não são suficientes para estabelecer uma conexão institucional com os Colégios Romanos, muito menos com os Antigos Mistérios. Europeia e medieval, a maçonaria operativa também é um fenômeno continental. O prestígio maçônico britânico é inigualável, mas a maçonaria, a Arte Real, é tão antiga e bem estruturada no continente quanto nas Ilhas Britânicas. O Regius foi escrito na Inglaterra, mas alude aos Sancti Quatuor Coronati, cuja história de fidelidade e sacrifício ocorreu na parte continental da Europa, tanto que os mártires são padroeiros da maçonaria alemã, permitindo pensar que mais uma vez se cumpriu o axioma maçônico de que a sabedoria vem do oriente, com a maçonaria operativa do continente, sobretudo alemã, influenciando a britânica neste estágio e, na fase especulativa, a maçonaria britânica influenciando a continental. Jean Palou, na obra “A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática”, corrobora esta tese, com as seguintes palavras:

A velha Maçonaria inglesa, a das Old Charges, é filha das organizações de companheiros continentais, especialmente germânicas e francesas.

O fato é que a maçonaria operativa europeia, britânica e continental, sobretudo no centro da Europa, onde hoje temos a Alemanha, grande parte da França, Suíça, Áustria, parte da atual Polônia à margem esquerda do Rio Vístula, a Boêmia na atual República Tcheca, o norte da Itália e os Países baixos, tem a mesma origem, independentemente do lugar: O conhecimento das técnicas construtivas preservado e transmitido pelos monges cristãos! Após a Queda do Império Romano do Ocidente, século V, do ponto de vista da maçonaria, da Arte Real, teve início a Idade da Madeira. Longo período de vários séculos de trevas da civilização, decadência social, econômica, política, declínio de todos os índices de qualidade de vida. Violência, doenças, tirania. Os canteiros de obras praticamente sumiram do território europeu; cidades desaparecem num dos mais intensos êxodos urbanos da história ocidental. Os pedreiros-livres deixaram de circular, agora já não acompanhavam mais as legiões romanas, porque a última legião fora derrotada pelos bárbaros germanos já fazia muito tempo. Roma caiu e com ela o modelo antigo de civilização. Instalou-se a Era das Trevas na velha Europa, com o estabelecimento de um longo período feudal. Quando, depois de longos séculos, advier o renascimento da economia, com a Revolução Comercial, ressurgirá também a Arte Real. Aquela ensinada por Euclides desde tempos remotos e levada ao fastígio da beleza e da força na arquitetura dos pedreiros góticos!

Bem, se por ocasião do cataclisma que foi o Dilúvio de Noé, o conhecimento não se perdeu, graças ao mármore e ao tijolo, como registra o poema introdutório do Manuscrito Cooke, não seria desta vez. Os monges cristãos, principalmente aqueles que se esconderam dos bárbaros, e passaram a viver em regiões montanhosas, as terras altas da Escócia, um belo exemplo, mantiveram vivas as técnicas construtivas, ao longo da Alta Idade Média, a aludida Idade da Madeira para os maçons. Nas terras correspondentes à atual Alemanha, conforme ensina o Sistema Instrucional da Grande Loja de Santa Catarina, a pratica da construção foi reintroduzida no século VIII, iniciando o declínio dos “Anos da Madeira”, por um monge cristão, anglo-saxão, natural de Wessex, o monge Winfrid, que entrou para o rol dos santos com o nome de Bonifácio, pelo seu trabalho apostólico em prol da Igreja Romana. Da madeira à pedra, tem início o Período da Arquitetura Monástica, uma fase que se desenvolve acompanhando à retomada das atividades civilizatórias, com a paulatina recuperação da vida urbana, das atividades mercantis, dos primeiros sinais do advento de uma classe social burguesa e da consolidação da Igreja Romana como guardiã das consciências, opiniões e destino dos homens, além de ter as chaves do cofre. Neste ponto, a Arte Real, a arquitetura diferenciada, possibilitou relativa independência aos pedreiros-livres, embora suas Corporações, ao se constituírem, prestassem voto de submissão à Roma. Na verdade, a liberdade que recebiam era muito mais de deslocamento físico pelos caminhos europeus, para atender aos interesses eclesiásticos, do que de consciência e opinião. Ainda assim, a pratica da Arte Real, o convívio no bojo da Fraternidade, as obrigações sociais, éticas, técnicas, comportamentais mesmo, que pesavam sobre os ombros dos maçons, acarretavam o desenvolvimento intelectual e, naturalmente, a ascensão a mais elevados níveis de consciência e entendimento. Para os interessados, os projetos de Villard de Honnecourt, mestre na Arte Real, estão guardados na Biblioteca Nacional da França. Simples apreciação dos trabalhos deste grande maçom operativo, evidencia elevado nível intelectual, o que garante, portanto, estarmos diante de um personagem com elevadíssimos níveis de consciência e racionalidade, num espaço cultural cerceado pelo pensamento religioso.

Na Alemanha, o Período da Arquitetura Monástica se estendeu do século VIII ao XII, fase em que os segredos da construção estavam confinados nos mosteiros, e os canteiros de obras das Catedrais e outros prédios eclesiásticos eram supervisionados diretamente pelos bispos no âmbito de suas respectivas jurisdições. Formaram-se, neste longínquo tempo, as Corporações de Monges Operários, cuja estrutura copiava aquela dos antigos Colégios Romanos de Artífices, com monges pedreiros que talhavam a pedra bruta nas jazidas, monges pedreiros que esculpiam as asperezas da matéria-prima, esquadriando a pedra para que se encaixasse com perfeição na obra e monges pedreiros que faziam os projetos e supervisionavam os trabalhos. Muito importante, neste contexto, foi a comunicação dos segredos da construção dos monges para seus empregados leigos, contratados para fazer frente às necessidades de mão-de-obra nos grandes projetos. Simples, mas paulatina, progressiva, poder-se-ia dizer não intencional. Natural, com o passar do tempo e uma dedicação quase integral ao trabalho, que operários leigos mais inteligentes, absorvessem as técnicas construtivas, ao ponto de rapidamente terem suplantado seus antigos mestres monges cristãos.

Portanto, assim como na Inglaterra, os segredos da construção, com o tempo, passaram dos monges para seus próprios auxiliares leigos, que acabaram por se desligar dos antigos mestres e constituir suas próprias Corporações, as futuras Grandes Lojas de Colônia, Estrasburgo, Magdeburgo, que, aliás, tem a mais antiga das Catedrais Góticas, Viena, Genebra, Zurique, Praga e outras. Inicialmente, o estilo arquitetônico desenvolvido pelas Corporações de Monges foi o românico, e depois, a partir do século XII, com as Corporações leigas, predominou o estilo gótico, que levará a Maçonaria Operativa à apoteose da genialidade arquitetônica. A arquitetura gótica, em terras germânicas especialmente, produziu obras-primas. Grandiosos templos dedicados à religião cristã, eivados de simbologia, formando poemas pétreos metafísicos, mimetizados entre as linhas verticais da obra, nas torres, nas fachadas, nos desenhos e relevos de pedra sobre pedra. Uma arte, uma ciência, plenamente capaz de impressionar os intelectos mais bem formados, inigualável em termos de emulação para o autoconhecimento e aperfeiçoamento do Homo sapiens simbolicus, que já existia no coração dos nossos antepassados operativos, porque assim como nós operamos, eles também especulavam.

Precisamente na Alemanha, a partir do início do século XII, ainda no alvorecer da Baixa Idade Média, com o desenvolvimento do estilo arquitetônico gótico, surgem as primeiras Lojas maçônicas. Uma das primeiras localidades onde se verifica a presença da arquitetura gótica é o Distrito de Hirsau, na Cidade de Calw, no Baden-Württenberg, a meio caminho entre Stuttgart e Estrasburgo. Junto às construções góticas, encomendadas pela Igreja ou por grandes Senhores Feudais, surgem, na Alemanha, as primeiras Lojas, em alemão Bauhütten, locais reservados aos maçons, com fins diversos: estúdio para projetos, espaço para reuniões, salão para instruções, oficina e alojamento. Um reduto de classe, dentro do qual reverberavam os segredos operativos da Arquitetura e os primeiros arcanos da Arte Real, sob a regência de estatutos pormenorizados e memoráveis.

Os alemães levaram muito tempo para constituir um único país. A unificação dos Estados alemães num único Estado soberano, só veio no século XIX, sob a liderança de Bismarck. Ao longo de séculos, o mais correto seria falar num “mundo alemão”, formado por uma miríade de feudos e pequenos reinos, sob a égide do Sacro Império Romano Germânico, cujo poder estava muito mais nas mãos dos barões e pequenos reis do que na figura do Imperador. Pois bem, neste tempo de fragmentação do poder político, numa época em que a decadência da sociedade feudal, paulatinamente, dava lugar ao Renascimento do Comércio, a Igreja Romana era a instituição mais rica e poderosa da Europa. Contratante rigorosa dos serviços dos maçons na construção de catedrais e outros prédios religiosos. Os maçons atendiam, também, aos Grandes Senhores Feudais, reis, condes, duques, barões. O estilo arquitetônico gótico, muito mais sofisticado na técnica, nas formas e na subjetividade esotérica das mensagens cifradas na pedra, se mostrava apropriado para servir aos interesses dos poderosos. Para a Igreja, as torres góticas que se abriam para o cosmos, quase tocando o céu, eram instrumentos teológicos demonstrativos de sua grandeza e da pequenez dos fiéis. Para os barões, as torres dos castelos revelavam o poder sobre o povo comum, os servos da gleba e os poucos homens livres, além de manter os inimigos distantes.

A demanda pelo trabalho da maçonaria, portanto, foi aumentando nas terras alemãs ao ponto de os primeiros colégios de maçons leigos se transformarem em Sociedades Operativas, as chamadas “Sociedades dos Canteiros”, organizadas com estatutos pormenorizados, as Antigas Ordenações, e que, com o tempo, passaram a atender a demanda por grandes construções, principalmente catedrais, em toda a Europa continental. As Sociedades de Canteiros eram compostas por vários pedreiros especialistas: os Steinhauer ou cortadores de pedra, que trabalhavam no corte mais bruto, os Steinmaurer ou assentadores de pedras e os Steinmetzen, especialistas no fino trato com as pedras, verdadeiros artistas talhadores e escultores. O Mestre Maçom, em sua antiga prancheta, projetava a obra e com os instrumentos de pedreiro realizava o trabalho, auxiliado pelos valorosos Companheiros e Aprendizes. Até a consolidação do Sistema Obediencial Operativo, por meio da constituição de Grande Lojas Operativas, os construtores leigos, os maçons, se organizaram em sindicatos de pedreiros, os Zünftes, dentre os quais ganharam destaque os de Magdeburgo, Würzburgo, Speyer e Estrasburgo.

Os supostos restos mortais de Baltazar, Melchior e Gaspar, trazidos à Colônia por Frederico Barba Ruiva, fizeram da cidade alemã um centro de peregrinação cristã. Na virada da primeira para a segunda metade do século XIII, no local onde antes existia um templo romano pagão, foi iniciada a construção da Catedral de Colônia, obra-prima da arquitetura gótica. A obra era tão grandiosa e o canteiro de obras tão extenso, que se formou a primeira Grande Loja Operativa da Alemanha naquela antiga cidade, com a afluência de vários mestres da construção, auxiliados por seus Companheiros e Aprendizes. Vinte e cinco anos após a criação da Grande Loja de Colônia, em 1275, foi realizado em Estrasburgo o Primeiro Congresso Maçônico, reunindo Mestres das terras do centro da Europa, da Itália e até da Inglaterra. Neste magnífico evento, o maçom Erwin von Steinbach fundou a Grande Loja de Estrasburgo, que viria liderar todo um conjunto de Grandes Lojas medievais, inclusive algumas mais antigas, como as Grandes Lojas de Viena e Berna. A partir de então a Oberhütte de Estrasburgo e a Oberhütte de Colônia passaram a liderar o cenário maçônico operativo europeu; a jurisdição de Colônia do centro para o norte da Europa, incluindo a rica região de Champanhe, com suas famosas Feiras, e a jurisdição de Estrasburgo do centro para o sul, incluindo a Zona dos Alpes. A Maçonaria Operativa europeia continental, as Grandes Lojas germânicas com enorme destaque, foi pioneira no fenômeno dos “maçons aceitos”, influenciou a maçonaria britânica operativa e, por ocasião da elaboração dos estatutos de Estrasburgo, estabeleceu a conexão entre a Maçonaria Operativa medieval e a Maçonaria Especulativa contemporânea. Foram valorosos Irmãos, aqueles pedreiros-livres medievais do “mundo alemão”!

A rigor, o sistema maçônico operativo na Alemanha se estendeu até os primórdios do século XVIII, tendo se desestruturado com a passagem da Cidade de Estrasburgo para a soberania francesa e sua desconexão com as demais Grandes Lojas germânicas, que em face disso entraram em rápida decadência. Fecham-se as cortinas da fase operativa, acendem-se as luzes da fase especulativa. A hanseática Hamburgo, com seu porto tradicionalmente conectado com a Inglaterra, abriu as portas da Alemanha para a maçonaria especulativa. No período entre 1737 e 1741, várias Lojas foram criadas. A primeira delas, Absalom Zu 3 Nesseln n.1, foi fundada em Hamburgo. Com o apoio de Frederico II à maçonaria, é fundada em Berlin a célebre Loja Os 3 Globos, primeira Loja maçônica da Prússia. Outras Lojas foram criadas em Dresden e Leipzig, no leste do país e em Frankfurt, no Hessen, centro do mundo alemão. No período especulativo, como em outros países, se formam diversas Grandes Lojas na Alemanha, dentre as quais a Grande Loja de Hamburgo, que jurisdicionou a maçonaria catarinense em seus mais tenros primórdios, o que nos liga institucionalmente à tradição e história da maçonaria alemã. Atualmente, as Grandes Lojas germânicas estão unidas para efeitos de política externa e relação com o público profano, formando a Grande Loja Unida da Alemanha.

SÉCULOS XIX e XX

A Grande Loja de Santa Catarina é a apoteose de um processo maçônico, pioneiro no Novo Mundo, e um dos mais antigos e tradicionais do Brasil, iniciado em meados do século XIX, na Colônia Dona Francisca, hoje maior cidade catarinense[2]. A história da Colônia, desde os primeiros dias, maçônica por excelência, começa em 9 de março de 1851, da Era Vulgar. O escritor maçônico Cyro Ehlke atesta que entre os primeiros imigrantes alemães e suíços muitos eram maçons. O escritor Carlos Ficker, que nos brinda com a mais completa crônica da Colônia Dona Francisca, na obra História de Joinville, nos traz estes nomes de maçons proeminentes na história da Manchester Catarinense. Registra o renomado autor:

Os nomes dos proeminentes maçons, que gozavam da mais conceituada projeção na Colônia, eram Pochaan Jr., Ravache, Klatt, Ulrichen, Bemba, Borchert, Gelbcke, Monich, Pastor G. Hoelzel[3], Schmidlin, Pabst, Auler, Anthony, C. W. Boehm, Kumlehn, Rogner, Delitsch, Wulderwald, Lange, Lasperg, Zinneck, J. Paul Schmalz e outros.

Não esqueçamos, também, que muitos imigrantes transladados pela Sociedade Colonizadora de 1849, em Hamburgo, presidida por Christian Mathias Schroeder, para a Colônia às margens do catarinense Rio Cachoeira, optaram pela vinda ao Brasil, pela necessidade de sair da Europa[4], devido às consequências políticas e jurídicas no pós-revolução de 1848. Portanto, muitos eram politizados e tinham noção sofisticada de como exercer a cidadania e ânimo diferenciado no tocante ao envolvimento social, sendo o maior exemplo de cidadão comprometido com as causas comunitárias o Patrono não oficial da Maçonaria Catarinense do século XIX, insigne maçom, Herr Ottokar Dörffel, Bürgermeister de Dachau e Joinville, que bem poderia encabeçar a lista de Ficker. A residência onde morou, hoje Museu de Arte de Joinville, esconde marcas e mistérios da antiga maçonaria catarinense. Ao contrário do que se ouve comumente, Dörffel não fundou a maçonaria na Colônia. Os registros demonstram que este grande personagem e maçom teve a sua filiação à Loja Alemã realizada em 10 de janeiro de 1856. A primeira Loja criada na Colônia recebeu o título distintivo em alemão: Zur Deutschen Freundschaft, fundada em 29 de dezembro de 1855, data até hoje comemorada pela maçonaria da Cidade da Dança! Em sua História de Joinville, Carlos Ficker nos conta sobre os primeiros passos da maçonaria catarinense em terras da Colônia Dona Francisca. Segundo Ficker, no ano de 1855 surgem as primeiras sociedades na Colônia. Sociedades recreativas, esportivas, culturais e maçônicas[5]. Assim, são constituídas a Sociedade de Atiradores, a Schuetzen-Verein zu Dona Francisca, a Sociedade Cultural, a Cultur-Verein zu Dona Francisca e as Lojas Maçônicas “Zur Deutschen Freundschaft” e “Zum Südlichen Kreuze,” a última fundada em 1856. Ambas se fundiram em 18 de maio de 1859, sob o título distintivo Deutsche Freundschaft Zum Südlichen Kreuze[6], cujos trabalhos se desenvolveram em língua alemã até 1937, com a prática do belo Rito Schroeder.  Infelizmente, no plano nacional o estabelecimento do Estado Novo e no plano internacional o advento do nazismo e as injunções decorrentes da Segunda Guerra Mundial, acarretaram o abatimento provisório das Colunas da Loja Alemã e, quando do retorno, em 1951, estava perdido este patrimônio preciosíssimo que é o idioma de Goethe. De lá para cá, o ritual tem sido praticado em português, com a substituição do Rito “Alemão” pelo Rito Escocês Antigo e Aceito.

Assim, a partir de 1855, tem início uma caminhada, que nos levou aos dias de hoje. Os trabalhos tiveram início na casa do maçom Jacob Richlin, que alugou três salas de sua residência à Loja maçônica. Em seguida, recebendo a doação de um terreno da Sociedade Colonizadora, a Loja se instala nas cercanias do atual Hospital Dona Helena, na vertente do morro, nos fundos do antigo cemitério protestante, numa ruela que ficou conhecida como a Rua da Loja ou, em alemão, Longenstrasse. Os historiadores, Carlos Ficker e Cyro Ehlke, destacam a modéstia do Templo da Rua da Loja. Segundo Ehlke, o Templo fora construído com troncos de palmito e coberto com folhas da mesma árvore. Anos depois, por volta de 1864, a Loja construiu um sólido prédio, no outeiro da Rua do Príncipe, dominando por muitos anos o panorama da cidade. Hoje, a maçonaria joinvilense, incorporada à Grande Loja de Santa Catarina, da qual é cofundadora, trabalha em dois pontos geométricos distintos. O primeiro num amplo prédio maçônico, sóbrio por fora e belíssimo por dentro, na Rua Dona Francisca, com três Templos, nos quais trabalham 8 Lojas. Merece registro especial, o Templo Central, concebido dentro dos princípios maçônicos, pelo artista Juarez Machado, pintor de renome internacional, e que se constitui num patrimônio artístico maçônico sem igual. O segundo, no Templo da Rua Marari, modesto, de dimensões diminutas, mas que acolhe e viabiliza o trabalho de duas Lojas: a Loja Wolfgang Goethe, n. 113 e a Loja São Mateus, n. 120. Todas elas integradas à estrutura da Grande Loja de Santa Catarina, que congrega mais de 120 Lojas. O Templo da Rua Marari, construído por Obreiros da Loja Goethe, n. 113, e o processo de expansão que viabiliza, é o atual capítulo desta grandiosa história e tradição. Apesar dos grandes desafios, que o processo de crescimento apresenta, ali trabalham maçons que não se abatem com as resistências locais, devido à quebra de paradigmas, e com as dificuldades materiais, devido aos custos. Hoje, o crescimento das Lojas Goethe e São Mateus, já nos desafia a construirmos um segundo Templo, com maior capacidade de lotação. No futuro próximo teremos que enfrentar este desafio! Nesta direção, a Grande Loja de Santa Catarina é um braço forte por meio de seu fundo de auxílio à construção e reforma de templos maçônicos.        

 

[1] No sentido de Ordem Maçônica

[2] Joinville, nas palavras de Baltasar Buschle, contidas na excelente obra “Joinville Os Pioneiros”, de autoria das professoras Raquel S. Thiago e Maria Tereza Böbel, foi o coroamento de um projeto bem-sucedido que nasceu da convergência de estímulos emigratórios decorrentes de acontecimentos históricos, instabilidade política, econômica e religiosa, matrimônio de Príncipes, necessidades financeiras da realeza deposta e interesses econômicos e empresariais.  

[3] Relevante destacar o luteranismo esclarecido, que se instalou em terras catarinenses. A semente não cai longe do pé e as consequências da proposta de Martin Luther de termos ao lado de cada templo religioso uma escola, como bem simbolizam em Santa Catarina a Paróquia da Paz e o Colégio Bom Jesus, no Centro de Joinville, atestam os resultados positivos desta brilhante ideia. A maçonaria joinvilense, sempre contou com Pastores Luteranos em suas Colunas. E isto se deve a diversos fatores, que vão desde a escolaridade média da população luterana, passando pela tradição vinda da Europa, chegando no cerne do pensamento de Lutero, que bem poderia ter sido um dos primeiros grandes Aceitos, naquele período de transição da maçonaria operativa para a especulativa.

[4] Carlos Ficker, na Obra História de Joinville, indica como causas da migração europeia para a Colônia Dona Francisca, além das causas de ordem política ligadas à Revolução de 1848, o crescimento demográfico europeu continental, a pesada tributação, a concentração da propriedade rural nas mãos da aristocracia e a crise econômica.

[5] Foram fundadas duas Lojas maçônicas: uma em 1855 e a outra em 1856, que se fundiram em 1859.

[6] “Amizade Alemã Ao Cruzeiro do Sul”

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