Os processos se vão, os advogados ficam

Jovem advogado na cidade, egresso da área econômica de grande empresa da cidade, o combatido profissional pairava em seus quase quarenta anos e carregava consigo o recém desemprego, a mulher que virara secretária e dois filhos entrando na fase da adolescência.

A responsabilidade era grande, o esforço era enorme no recém inaugurado escritório e os poucos casos que já possuía eram tão importantes para tal quanto para o cliente.

Num dos casos, litigava com advogado experiente da cidade, único causídico que foi preso político da cidade e de enorme reputação e sucesso. A audiência de instrução em caso familiar se aproximava e o nervosismo era evidente. Davi e Golias.

O jovem advogado perdeu a causa na própria audiência, em sentença prolatada em ata. Talvez pela inexperiência, talvez pelas testemunhas, pelos documentos, enfim, ou era para ser mesmo. Nem sempre se ganha. Mas saiu muito bravo do ato.

Não se conformava em ter perdido. Saíra discutindo com o experiente advogado da sala, dedo em riste, que isso não iria ficar assim e que iria recorrer.

Este, então, vendo a absorção da causa do cliente pelo advogado, o que inequivocamente é fatal, calmamente aproximou-se, colocou a mão no ombro do jovem advogado, e sentenciou:

– Doutor, os processos se vão, os advogados ficam…

Duas décadas depois, esta mesma história foi contada no discurso de posse do então jovem advogado, agora muito mais experiente. Era sua posse na Academia Joinvilense de Letras, em que aquele outro, hoje aposentado, era o Presidente. Ambos viraram escritores. E os processos se foram…

10/5/2016

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