Ouvir Estrelas (Salustiano Souza)
OUVIR ESTRELAS
No rutilar do vinho, céu a fulgir, ouço as estrelas,
Sussurros vívidos enchem a noite calma.
“Perdeste o senso!”, dirão. Mas minha alma
Queda-se límpida a conversar com elas.
Céu e coração diáfanos, pálido espanto,
Via-Láctea, dossel, um pálio cintilante,
Nos alfombra em murmúrio, diálogo constante,
Horas revoam até assomar o sol em pranto.
“Que loucura!”, apregoam céticos e incrédulos,
“Qual sentido vige nesse colóquio mudo?”
Socorre-me Bilac, artífice a intentar tais enredos:
“Para albergar no âmago o céu profundo,
Amar se faz preciso, fruir ouvido agudo,
E ter coração descerrado para o mundo.”
Salustiano Souza
Outubro/2024