Poema para o olhar da mãe (Elizabeth)

POEMA PARA O OLHAR DA MÃE

Elizabeth Fontes

 

Olhos da mãe nascem quando nasce o filho.

Com o filho os olhos da mãe se abrem e a partir daí enxergam o mundo de outra forma.

De outro ângulo.

Com outro jeito.

Olhos de mãe nascem nas primeiras lágrimas de olhar o rosto do filho.

Olhos nascem quando se reconhecem nos traços daquele pequeno ser “recém-chegado”.

Depois, os olhos de mãe sempre renascem. Dia a dia.

Olhos de contar “corujices”.

Olhos de ternura, de bondade. Olhos que parecem não dormir nunca.

Olhos do zelo, incansáveis, procurando não perder nada do alcance da vista.

Olhar de mãe é atenção pura, em cada detalhe do filho.

Olhos de mãe são puro deleite nas descobertas que ele faz.

Olhos de mãe sorriem por tudo, pelas bobagens tolas de todo dia.

Olhos de sorriso pelo cabelo arrepiado, pelos dentinhos que apontam, pelo pezinho que anda, pelas palminhas que batem.

Olhos de chorar por tudo, os olhos de mãe…

Pela dor de ouvido, pela dor da vacina, por aquele primeiro dia em que deixou o pequeno no colégio.

Olhar de mãe é atento, sempre atento. Demasiado atento.

Olhar de carinho para os joelhos esfolados, para o menor sinal de fome. E de febre.

Olhar de meiguice, de doçura, de encantamento pra tudo.

Até quando as lembranças da infância são apenas aqueles desenhos coloridos e enormes, pregados com doçura na porta da geladeira.

Olhar de mãe é doce até quando não se tem mais aqueles bilhetinhos de “mamãe te amo” no canto da mesa ou de surpresa dentro de um livro.

Olhar de mãe é onipresente, onisciente. Existe e afaga.

Olhar de mãe segue encantado no tempo, sempre, sempre…

Olhar de mãe salva, olhar de mãe cura. Olhar de mãe abraça a alma e dá colo.

Olhar de mãe é choro e dor.

Olhos de mãe têm orações gravadas para sempre na retina.

Olhos de mãe têm silencio. Tem suplicio. Tem segredos também.

Olhar de mãe tem fé. Inabalável. Indestrutível.

Olhos de mãe acreditam. Olhos de mãe valorizam.

Olhar de mãe conforta e dá abrigo.

Olhar de mãe olha como se fosse o mundo. Critica, aponta, desvia. Ensina. Direciona, mesmo que o caminho do filho seja o de voar inseguro, fora do tempo.

Olhos de mãe sempre se comovem com os olhos de outras mães. Comovem-se com os olhos de outros filhos. Comovem-se com os olhos de qualquer dor… Mãe já nasce com essa dor no peito. De amar se derramando.

Porque os olhos de mãe são eternas lamparinas de olhar, de acender, de iluminar, de perceber o menor sentimento de angustia. O menor sinal de tristeza.

Olhos de mãe são tudo. São flores, são luzes, alimento. Abraços e beijos na alma.

Olhos de mãe dizem todas as palavras. As ditas e as caladas.

As palavras amadas e as silenciadas.

Olhar de mãe é mapa, é bússola, é guia. Benção.

Olhar de mãe é tudo, no nada. É tanto, no encontro.

Olhos de mãe são olhos de olhar profundo e, com eles, ela tece a alma e borda com talento o coração de cada um que gera e nutre.

Mães olham com plenitude.

Olhos de infinitude.

Olhos de tudo que é eterno.

Porque os olhos das mães foram inspirados assim, na luz de todas as estrelas…

E porque no olhar da mãe, cabe inteirinho a maior de todas as coisas feitas:

O amor infinito dos olhos de Deus.

 

Publicado no Caderno Plural – Jornal Notícias do Dia. Joinville, 25/05/2015

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