Salustiano Luiz de Souza (Marinaldo)
SALUSTIANO LUIZ DE SOUZA
Ouvi a música “Era uma vez”, que fez muito sucesso há dois anos atrás, e lembrei de Salustiano, de textos dele que tinha lido, e imaginei Itajaí, nos anos 70 e 80, criando um guri curioso, leitor e atrevido de tão serelepe, brincando de bola com “o gordo, o vesgo, o dentuço, o negão”, que era como as crianças se apelidavam, segundo ele, “na inocência de nãover defeitos”.
Não saberia lembrar de Itajaí sem ter que imaginá-la sendo lembrada. Como escritor, me transporto. Creio que não fantasio tanto o que já é fantasiosa por natureza, as lacunas da memória (!), e por isso, posso ver Salustiano, nesses minutos em que o escrevo, correndo descalço, sem pressa de entender que ao crescer verá que o mundo é também mau, “onde pureza se negocia com cobiça, onde inocência sucumbe ao egoísmo… Pena é descobrir que as feridas proferidas causam mais dor, deixam mais cicatrizes, que os ralados de nossa infância”.
Esse texto presente é um passado presente que busca resgatar e apresentar o Saluzinho para essa gente toda mergulhada em palavras bonitas. Eu gostei de imaginar o advogado advogando a infância, atenuando seus próprios crimes infantis, como roubar para ganhar no peão, ultrapassar pela direita um amiguinho na corrida de saco, ou fazer um gol com as mãos quando se imaginava Pelé, Garrincha, e os Espinheiros de Itajaí, a granja Comari da molecada.
Conheço pouco da obra salustiana. Conheço pouco mais, mas ainda assim não muito, do escritor advogado que sempre quando me, parece que se agrada. Sei que tem um tal de Bartes, que queria ser eterno, que deve morrer de inveja de seu Victor Frankstein, que neste momento, já é. Para quem não leu esse trabalho deste menino, não sabe o que está perdendo! Doutor Fiuza talvez faria apontamentos porque o livro entra em sua seara, ou melhor, nos meandros do cérebro, e fala de eletrocorticografia, nome tão lindo! De repente você lê que alguém colocará a “matriz no córtex entorrinal porque os estudos indicam que a memória se situa ali (sic)”.
Imaginei a memória situada. Às vezes, ela em estado de sítio, mostra quem somos. Bartes, personagem de Salustiano – aquele que precisa de salvação, segundo o google – nasceu para mostra que nosso acadêmico já está salvo, que construiu o seu legado ao escrever sobre a necessidade do eterno para perpetuar o amor. Salustiano faz desse romance uma representação tão linda, uma alegoria tão explícita dos sonhos mais primordiais do ser humano: não morrer.
Pois assim então, criando um ritual para que se perpetue, mesmo que por meio da minha literatura, e que por isso, venha a ser esquecida, eu registro aqui a tua eternidade, Salustiano, pelos confins de todos os nervos
ainda indescobertos, de todos os neurônios que ainda não foram ligados, em nome do amor que você dedica a tua palavra, que resume a tua farta imaginação, vertida em esperança, buscando esse “pra sempre”. Membro
da cadeira número, 1. Você já é.
NOTA:
1 – Quando ouvi seu nome, pela primeira vez, Salustiano, lembrei de um filme de 1985, JE VOUS SALU, MARIE. Pra mim essa fonética me trazia seu nome.
2 – Dica de leitura de Salustiano, convertido em poema: Mateus 27, 46.
Marinaldo de Silva e Silva