Sem pelerine eu não vou! (Nelci Seibel)
SEM PELERINE EU NÃO VOU!
Nelci Seibel
“Isso é uma falta de consideração para com o Fiuza, que se esforçou tanto para a criação das pelerines e para com o Hilton, que receberá merecida comenda em solenidade da Academia Catarinense de Letras, pelo melhor livro de contos do ano, “Porque matei Rocky Lany”.
Foram lhe passados argumentos que lhe justificassem não ser momento adequado para o uso da cerimoniosa vestimenta. No mínimo porque a ACL não adotou o uso de pelerines ou trajes do gênero, somente medalhas. Não
iriamos nós, da Academia Joinvilense de Letras, teoricamente subordinadas a ACL, querer nos exibir com nossas pelerines. Na verdade são lindas, de cor verde-bandeira, bem escolhida pelo Dr. Fiuza, para demonstrar com
elas o nosso patriotismo ao nosso querido Brasil varonil.
Bem! Com pelerine ou sem pelerine, o membro fundador da AJL, Dr. Carlos Adauto Vieira, do alto do seu referendado posto da cadeira nº 30, e que se auto-intitula “ADA O INDOMÁVEL”, não foi! Hilton em seu
momento de glória entre os distintos escritores e acadêmicos de Florianópolis recebendo a comenda impressa em letras douradas, das mãos do presidente da ACL, Pinheiro Neto, ficou sem os aplausos do MISTER ADA! Contudo demonstrou sua alegria pela presença do presidente da AJL David, da Nelci, Else e Maria Cristina, além de Simone, Reinoldo e Inês da Associação das Letras.
O Indomável Ada, porém, não contou (nem nós!), com o acidente que enfrentaríamos logo ao adentrarmos a BR-101! Outra van, dirigida por um sujeito de bermuda e chinelão (bem provável ainda sem lenço e sem documento), vinha atrás da nossa, na maior velocidade. Disse que o freio falhou. Antes de nos encontrar abalroou outro carro conduzido por uma mulher, quase levando a sua lateral inteira, para depois emitir toda a sua força na traseira do nosso veículo, causando grande prejuízo.
O choque foi estupendo! O susto nos fez gritar! De imediato olhamos uns para os outros de olhos arregalados, para ver se ninguém havia sofrido algum machucado! Ninguém, ainda bem.
O tempo que permanecemos na BR aguardando uma van substituta chamada às pressas pelo Sr. Wagner (nosso motorista), para nos levar a Capital, aproveitamos para beber as cervejas geladas levadas pelo David e degustar os salgados do Hilton e os mufins da nossa, além de experiente escritora, exímia doceira, Maria Cristina.
Nem de longe imaginávamos que o ADA, em sua lei de vida “quando eu quero eu faço”, mudou de ideia e nos seguiu, para enfim entrar na van e nos acompanhar… Ao encontrar o acidente e trajando a sua pelerine, sem percebermos, se esgueirou ao longo da van para ver se estávamos bem, e aí percebeu: – são uns danados! Iriam sem pelerine, mas as levaram! Ele ainda ouviu a Else dizer: “não as usaremos na solenidade, mas se ficar frio servirá de agasalho”.
Depois de cerca de duas horas conseguimos seguir viagem em um trânsito extremamente confuso, com centenas de caminhões, cientes de que chegaríamos atrasados. Quando o ADA se deu conta do atraso decidiu voltar pra casa. “Não vai dar tempo mesmo de emplumar minha pelerine”.
E não deu mesmo! Deu tempo do Hilton receber sua comenda, registrar o evento com fotos entre os demais homenageados e os merecidos aplausos da plateia, já em fase de dissolução.