Sítio Dadam (Zabot)
SÍTIO DADAM
Dia desses adentro no Sítio Dadam, região da Vila Nova. Surpreendente, pois conserva traços coloniais, embora Armelindo, o sucessor, tenha optado pela carreira bancária. Hoje, aposentado, usufrui as benesses de tê-lo herdado e conservado. Retomou suas raízes, portanto.
Um sítio tradicional não deixa de ser um pequeno paraíso. A música sertaneja, Meu Sítio, Meu Paraíso bem expressa isso; arranjo de Zé do Rancho, que também fez o arranjo das músicas do primeiro disco de Krüger e Vogelsanger que marcaram época em Joinville. Interpretada por cantores como Tião Carreiro e Pardinho, Lourenço e Lourival, Goiano e Paranaense e Sérgio Reis. Ouvi-la, levanta a moral como diz o ditado popular.
Tive a sorte de viver a juventude no sítio de meus país. Pequeno sítio, infância no campo, vida saudável – um privilégio. Hoje, quando os ecologistas falam em desenvolvimento sustentável, nada mais próximo disso do que o sítio tradicional. O sustento da família, o básico vinha da horta, do pomar e da criação de animais domésticos. Da atividade principal – gado ou lavoura -, provinha a renda. E tudo era reciclado. Reaproveitado. Hoje, cognominam de economia circular.
Em outras épocas, algumas cidades foram planejadas. Poucas, no entanto. Adotavam uma sistemática bastante simples, porém funcional: zona urbana e zona rural. Na zona urbana os lotes ou “datas”. Aqui chamam de “chão”, e no entorno, orbitando-as, as chácaras com área de até 5 hectares. Um hectare equivale a um campo de futebol. E, mais afastados, os sítios; estes maiores, com 10 hectares. Esse modelo foi amplamente adotado pela SINOP (Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná), pelo colonizador Ênio Pipino.
Mais tarde, em 1995, Jaime Lerner, enquanto governador do Paraná, lançou em nível estadual as chamadas “Vilas Urbanas”, chácaras de até 5 mil metros quadrados na periferia das cidades maiores. Várias delas na grande Curitiba, onde, como prefeito, já adotara a medida. Basicamente visava assentar os contingentes de boias-frias, fruto do êxodo rural. O projeto incluía também a residência.
Com a medida os assentados praticavam a dupla jornada, regime do part-time: parte da jornada na agricultura e, parte, em atividades urbanas. O modelo – espécie de colchão de segurança -, encaixava-se como uma luva. Vida no campo, alimento de qualidade e renda extra em outras atividades. Assentado pluriativo, portanto.
Hoje, o cenário mudou: via de regra, o que se constata na periferia das grandes cidades é um cenário sombrio. Expansão desordenada. Lixo. Insegurança. Ocupações mais das vezes irregulares ou planejadas, mas sem critérios de sustentabilidade. O fato vem ocorrendo na região sem nenhum controle, exceto limitações de ordem ambiental.
A Associação dos Engenheiros Agrônomos da Babitonga vem se posicionando de forma contundente sobre esse processo deletério. Anselmo Cadorin que a preside, compara com Roma, cidade milenar, mas que mantém um cinturão de produção alimentar e de água consolidado.
Divagações à parte, Armelindo, hoje produtor de arroz irrigado, preside a Sociedade de Distribuição de Água (SODAJ). Graças à organização dos produtores a água captada no rio Piraí é distribuída de forma consensual a todos os produtos da localidade, o que garante safras abundantes e seguras. A cultura do arroz ressalte-se, demanda água, e por isso os orizicultores cuidam dos mananciais, buscam mantê-los preservados e protegidos. Jogo do ganha-ganha. E os tabuleiros não deixam de ser uma reserva estratégica. Balneário Camboriú remunera os orizicultores de Camboriú, município vizinho, pois tem perfeita noção de sua importância em termos de segurança hídrica.
Armelindo, no entanto, faz questão de mostrar o lado doméstico do sítio: o pomar, a horta e a criação de aves de corte e postura. E o viveiro de peixes. Os resíduos, compostados, viram adubo. Minhocas abundam nas leiras.
Mais adiante, na parte mais elevada, lavoura de taia e aipim. Ao lado pitaias, cultivadas por Fernando, seu genro, que pratica a dupla jornada; investindo, porém, a renda no sítio.
Inciativas deste gênero, certamente, devem ser incentivadas, pois assegura aquilo que todos almejam: sustentabilidade. Ou seja: bem estar e qualidade vida.
Joinville, 7 de novembro, 2020
Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo