Terra Prenhe (Salustiano)

TERRA PRENHE

 

Agosto em chamas, calor sufoca, abraça,

Horizonte bruxuleante, asfixiante dança.

Riscas rubras no estorricado chão traça,

Brilho de arado na vermelha poeira avança.

 

Dejúrio de vida abrigada em fértil solo,

Futuro verde que a mata espera, espelha.

Natureza úbere em seu regaço cede o colo,

Conluia a vida no barro, na cama vermelha.

 

Sementes mitigam vida em alcova escura,

Ansiando pela chuva em vívida carícia

O cio da terra engendra nova criatura,

Pressagiando ceifa, intumescida primícia.

 

Qual petiz em recôndito berço escaldante,

Torrão em transe, prece a suplicar água.

Ventre do sertão, fonte a mitigar abundante,

Germina, nutre a plantação, olvida mágoa.

 

Entremeios de vermelho transmutam-se no verde,

Botões em transe excitam o desabrochar flor.

Ditosa alquimia, da flor à semente, nada se perde,

Redunda-se sustento da prole do mirrado lavrador.

 

Quiçá possam os homens a alma ouvir entrementes,

Transmudar-se nessa alquimia, milagre do brotar.

Coração aberto, qual cova aguardando semente,

Regando o amor, ansiada espera a germinar.

 

Salustiano Souza

Novembro/2024

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