Ubuntu entre as plantas (Donald Malschitzky)

Ubuntu entre as plantas

Donald Malschitzky

 

“Ubuntu” vem de línguas faladas no sul da África, entre elas, o Zulu, e tem um significado filosófico de interdependência entre os seres humanos. Pode ser traduzida como: “Eu sou porque nós somos”.

Na natureza,  abundam exemplos de convivência de plantas e/ou animais ― chamados de consórcio ou de simbiose ― em que diferentes espécies convivem e se apoiam, com vantagens mútuas ou de alguma espécie em particular.  Insetos e flores são ótimos exemplos disso, podendo ser lembrados a cada colher de mel  ou mordida em uma fruta.   Na nossa região, os jacatirões crescem, se colorem e protegem as outras espécies até que essas se tornem fortes. Depois ― algo como duas décadas depois de nascerem ―, morrem e deixam a natureza seguir sua saga.

Há mais de mil anos, um consórcio muito simples e eficaz é usado no solo americano, inclusive no deserto do Atacama, onde a agricultura parece uma atividade bastante  improvável; chama-se “Milpa” e usa conhecimento ancestral sobre as necessidades das plantas e de como provê-las, assim, alimentando suas populações com milho, feijão e abóbora.  Diferentemente das técnicas europeias de cultivo, baseadas em revirar o solo para que os nutrientes alimentem as plantas, o que favorece  a erosão e empobrece o solo,  começa com o carinho de preparar o solo com as mãos, suavemente, e ali semear milho, feijão e abóbora.

A semeadura é feita no tempo certo, no melhor lugar, e respeitando sua história e seu objetivo. O local é escolhido por sua exposição solar, a terra, preparada e afofada  com as mãos para a semeadura, que começa com o milho, destinado a ser alimento e apoio para o feijão. Quando alcança 20 cm de altura, chega a vez da semeadura do feijão, normalmente, de corda. Ele usa o milho como apoio, sobe em direção à luz solar e, de quebra, fixa o nitrogênio no solo, deixando-o mais fértil. Chegou a hora da abóbora: semeada perto do feijão, ao nascer e crescer, suas folhas ajudam a manter a umidade do solo e o protegem das ervas daninhas.

No Atacama não se usavam venenos nem adubos químicos; a proteção era feita pelas folhas das abóboras, e os adubos vinham dos excrementos das  aves marinhas, riquíssimos em  nutrientes para as plantas.

De alguma forma, a natureza se encarrega de conviver e ajudar-se. E nos dá aulas!

 

 

 

 

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