Um lugar chamado Brasil (Lufiego)
Um Lugar Chamado Brasil
Aos Olhos De Um Apaixonado Pelo País
A palavra “Brasil” expressa uma experiência nacional em andamento. São 521 anos de duração até aqui, por isso em cada época histórica temos um Brasil diferente. Assim caminha a humanidade, e nós brasileiros acompanhamos, privilegiados que somos pelo país colossal que possuímos! A experiência de construção do Brasil expressa um curso sempre em progressão, um caminho étnico transformativo, associativo e dissociativo, miscigenado, uma cisterna que recebe as águas africanas, europeias e aqui já existentes, e transforma tudo num Rio São Francisco, gigantesca serpente hídrica, que nasce e morre nesta terra, oceano verde do Planeta. No imenso Brasil, além do fator temporal, o espaço geográfico de dimensões continentais também determina a coexistência de “Brasis” diferentes. Convido o leitor a deitar a ampulheta por um momento e lançar o olhar para o Brasil. Olhe para o Brasil. Não apenas para as favelas, para os problemas brasileiros, estes fatores já estão exclusiva e exageradamente veiculados para o mundo por alguns maus brasileiros, que vão lavar a nossa roupa suja lá fora, e pelos grandes meios de comunicação globais a serviço dos grupos que temem o desenvolvimento do Brasil, e fazem de tudo para nos manter atrelados ao subdesenvolvimento. Não se trata de esquecer os problemas brasileiros, façamos apenas um exercício para vislumbrar o gigantesco lado bom do Brasil, serão rápidos momentos.
Olhe para o gigantesco Brasil e para o numeroso povo brasileiro. Peço-vos um olhar objetivo. Olhe para os números do Brasil: área territorial e população absoluta. O Brasil que produz soja e aviões. O Brasil das lagoas, lagos, banhados e pantanais. O Brasil da sucuri-verde. Dos Rios Iguaçu, Tietê, Doce e Jequitinhonha, dos pequenos e históricos Paraguassu, que desemboca na Baía de Todos Santos, e Beberibe, em cuja foz ergue-se a cidade mais politizada do Brasil, capital nacional das sedições em prol dos interesses brasileiros. O Brasil dos rios Negro, Amazonas e Branco, da Ilha do Bananal, dos rios Araguaia e Tocantins, do Rio Itajaí e seu vale economicamente desenvolvido, das ilhas de Itaparica, Itamaracá e Santa Catarina, do arquipélago pernambucano, das coxilhas, dos campos, dos morros, das montanhas e das serras. O Brasil das grandes chapadas e planaltos, das cachoeiras e cataratas, que descem ligeiras em direção aos vales e planícies. O Brasil de Gramado, Balneário Camboriú, Blumenau, Joinville, Campos do Jordão e Petrópolis. O Brasil de Curitiba, cidade modelo nacional. O Brasil das Araucárias, do Cerrado e da Caatinga, das restingas, da Mata Atlântica, da Mata dos Cocais. O Brasil da Floresta Amazônica, do Boi-Bumbá de Parintins e dos rodeios de Barretos. O Brasil da Joaquina, de Maresias, de Copacabana, de Saquarema e de Itapuã, onde o acarajé ombreia com as mais saborosas iguarias do mundo. O Brasil do Penta, do vôlei e do surfe. O Brasil de Pelé e Airton Senna, de Maria Ester Bueno, Guga e Gabriel Medina, um novo Peri saído das “selvas” para dominar as ondas do mundo. O Brasil de Machado de Assis, maior escritor negro da literatura universal, de Euclides da Cunha, que adentrou à caatinga para fazer uma reportagem e saiu de lá com um best-seller, que comprova para sempre a bravura do sertanejo e os erros perpetrados pelos governantes brasileiros. O Brasil do Passarinho, que não foi aceito três vezes pela Academia Brasileira de Letras, embora seja o maior poeta nacional de todos os tempos. O Brasil da “Baleia” de Graciliano Ramos, fiel cadela da pobreza humana e companheira inseparável da nobreza de sentimentos do brasileiro do sertão. O Brasil do Capitão Rodrigo Cambará, que amou loucamente aquela que melhor representa os predicados da mulher gaúcha.
Parado o tempo por um breve instante, enquanto a areia da ampulheta não escorre, neste exato momento da história, o processo de construção do Brasil, ente além da nação, maior que o Estado e maior que o país, se caracteriza por duas realidades: uma geográfica, que expande os números brasileiros, outra social, que interliga os povos brasileiros num único povo. Paraenses e gaúchos, paulistas e alagoanos, mineiros e amazonenses, pernambucanos e capixabas, enfim, todos os povos brasileiros, uma única nação, no fundo todos candangos, numa coesão sociocultural semelhante àquela de uma pequena aldeia, simplesmente porque falamos a mesma língua, ainda que numa área geográfica gigantesca, com dimensões continentais. Eis o grande legado que a história transmite ao Brasil de hoje, cabendo a nós a garantia de que também será transmitido ao Brasil de amanhã: um colosso territorial, com a natureza mais fascinante e rica do planeta, e um povo de mais de 210 milhões de pessoas, falando a mesma língua. Ao falarmos a mesma língua, criamos um mundo familiar dentro de um mundo de línguas estranhas. Os elementos culturais de regiões extremamente distantes, onde caberiam dezenas de países, acabam circulando por todo o Brasil, e ainda que a variação, a diversidade e o talento sejam a marca do povo brasileiro na produção de cultura popular, acabamos todos nos identificando com o que chamamos de cultura brasileira. As batidas de tambores no Pelourinho pelos meninos e meninas do Olodum, reverberam até a Praia de Boa Viagem, onde ronda o feroz tubarão, vão aos Lençóis Maranhenses e dali até a Boca do Acre e de lá até o Pantanal, vão à Lagoa dos Patos e mais, passam pelo litoral catarinense, estabelecem morada em São Paulo, em busca de oportunidades, mas não terminam no Rio de Janeiro, porque jamais deixaríamos de saborear o pãozinho de queijo no coração de Minas.
Marcelo Lufiego