Vazio de Presença (Bernadéte Shatz Costa)

 

Vazio de Presença

Bernadéte Shatz Costa

 

Moldado na argila, o vaso é viveiro

de flores desabrochadas

que gritam perfume

de agarrar o silêncio.

No passar dos dias,

migalhas de pétalas

caem sobre a mesa.

 

Escrevo no papel de arroz

para te contar perfumes.

Em cada palavra,

o peso do abismo

no linguajar vazio de presença.

Pairo os olhos na janela

a fitar a sombra da partida.

 

Riscos e rasuras

já não imprimem textura.

Olho o vaso vazio

a registrar a fuga das folhas.

Apaga-se o archote

que aquecia a flor do corpo.

 

Saio pela janela, a dobrar a esquina.

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