Vida mais leve (Donald Malschitzky)

 

Vida mais leve    

Donald Malschitzky

 

Ao festejar seus 75 anos,  o neurologista Ronald Fiuza escreveu uma mensagem plena de significados de um amor tranquilo pela vida e da aceitação do embalo da morte: “Penso, agora,  que morrer não é coisa de meter medo em ninguém. Não deveria ser drama nem para quem vai, nem para quem fica. Imagino, por exemplo, que a sensação ao morrer deva ser algo até neutro, como dormir fundo, sem sonhar…”

Sobre sua missão:  “A Medicina também me proporcionou muito. Foi profissão, desafio e possibilidade. Além disso, trouxe consigo algo que fez a diferença. Foi a ciência, que me fez repensar os conceitos, questioná-los. Descobri, então, o que havia de melhor em mim”.

Agora, aos 76 anos, tendo tido  tempo, no intervalo,  de lançar um primoroso livro (“Não sei e não saberei jamais”), manter longas e boas conversas, ser gentil e atencioso,  fizemos sua vontade: “ E que, quando nos separarmos, encarem tudo com serenidade, recordando os momentos bons que vivemos juntos. E rindo ao se lembrarem dos mais engraçados.”

O velório foi um encontro de magia e emoção.   O ex-governador Paulo Afonso Vieira chegou com seu filho e  contou de quando,  com a família,  acidentou-se em São Bento  e o filho, então com um ano de idade, teve um grave ferimento na cabeça, e foi atendido pelo Dr. Fiúza.  O menino, agora adulto,  estava presente,  sem qualquer sequela.

Apesar de um  currículo invejável ― foi secretário de Estado da Saúde de SC, diretor do Hospital São José, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, representou o Brasil junto às Federações Mundial e Latino-Americana de Neurocirurgia, presidiu o Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Associação Catarinense de Medicina, liderou a Associação de Hospitais do Estado de Santa Catarina, foi vice-presidente da Federação Brasileira de Hospitais  e vice-presidente da Academia Joinvilense de Letras―, o que sobressaiu nas falas foi o compromisso dele com o ser humano, o bom companheiro disposto a ouvir e colaborar, o intelectual ocupado em desvendar e compartilhar os mistérios e as belezas da vida.

Seu filho, Thiago, conseguiu ler uma mensagem escrita pelo pai quando este  fez 75 anos (dela transcrevi pedaços acima), conquistando aquele silêncio de admiração. O Dr. Djalma Starling Jardim,  amigo que, com ele,  se transferiu de Belo Horizonte para Joinville quando eram bem jovens, contou de como debatiam questões da profissão;  uma aula inesquecível de companheirismo, admiração e ética.

No consultório de Dr. Fiuza, um mapa mundi mostra os países que já visitou; faltariam paredes se fosse feito um painel com assinaturas de todos os que, de alguma forma, ele ajudou a deixar a vida mais leve.

 

 

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