Entre o mundo real e o virtual

Estava andando na rua do Príncipe quando um olhar no meio da multidão capturou o meu. Em um instante, um brilho de reconhecimento iluminou este olhar, que instantaneamente se transformou em sorriso.

Eu, que posso não enxergar bem, mas sinto e pressinto como ninguém, percebi que aquele olhar me conhecia sabe-se lá de onde. E que certamente gostava de mim.

Era uma senhora de traços suaves, sorriso aberto e uma ponta de tristeza que se fazia presente sei lá como. Eu sabia que a conhecia – mas de onde?

– Você é Maria Cristina?  – perguntou hesitante.

– Sim, Maria Cristina Dias. – respondi, da forma como sempre me apresento.

Costumo me apresentar com o nome completo, assim, com ponto no final. E deixo livre às pessoas para me chamarem como quiserem. Geralmente, começam com Maria Cristina e vão diminuindo, encurtando, se familiarizando… passam para Cristina, para Cris.  De uns tempos para cá, há quem me chame só de Maria. Ainda não me acostumei com isso e às vezes, desculpe-me, ouço com estranheza como se não fosse eu. Maria era minha avó, Maria José. Mas quem sabe com a idade avançando, este nome também não vai cair bem em mim, como caía tão bem nela.

Mas, voltando à rua do Príncipe… depois do lampejo de reconhecimento, da certeza, veio um abraço. Um daqueles abraços macios, acolhedores, que fazem tão bem à alma.

Descobri que era minha amiga no Face, que já lera os meus escritos. Me disse seu nome.

Sim, nos conhecíamos. Não da forma tradicional, física. Mas da maneira virtual que caracteriza os nossos tempos. Trocamos algumas palavras e seguimos os nossos caminhos. E eu ganhei o meu dia com aquele abraço inesperado. De alguma forma, o mundo real e o virtual se encontraram na rua de forma natural.

Não que isso seja fácil ou comum. Não é. As redes sociais estão nos fazendo rever a forma como nos relacionamos com os outros. Podemos ser amigos no Face, trocar comentários sobre algum fato do dia a dia e dar bom dia de manhã, mas, ao mesmo tempo, ficar sem saber onde colocar as mãos quando nos esbarramos nos corredores do supermercado. Já aconteceu contigo? Comigo já.

Ou olhar para uma pessoa com aquela estranheza de quem conhece, mas não conhece, sem saber o que falar, sem ter certeza se será bem recebido ou reconhecido. Quem já não passou por isso?

As imagens do Face também não ajudam muito essa aproximação no mundo real. Nas fotos de perfil estamos sempre 10 anos mais novos, cinco quilos mais magros, com uma boa camada de maquiagem ou recém-saídos de uma plástica via Photoshop. Todo mundo sorri, não há rugas e os cabelos estão penteados. Difícil reconhecer essas pessoas perfeitas na vida real – a gente fica na dúvida. Será que é mesmo fulano que sorri para mim naquele quadradinho ali no canto do celular?

Bem, na dúvida sobre o que fazer, eu faço o que sempre fiz. Acolho. Sim, pode falar comigo, seja amigo real, virtual ou de qualquer tipo que venha a aparecer. Cumprimento, respondo, sorrio – só me faz bem. E de vez em quando ainda ganho de brinde um abraço gostoso como aquele na rua do Príncipe.

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