5º Concurso Literário – Modalidade Ensino Médio – Cat. Crônica – Menções Honrosas
5º Concurso Literário Carlos Adauto Vieira
Menções Honrosas na modalidade Ensino Médio, Categoria Crônica
Texto: Auto
Autor (a): Elisa Pilatti
Professor (a): Luciane dos Santos
Escola: Colégio Bom Jesus
Auto
Não sei quem escreveu esse roteiro, mas eu deveria poder redigir os parágrafos, acrescentar vírgulas, capítulos e encerrar o que não me agrada. Viver no palco alheio e satisfazer os espectadores não parece correto; por isso, quando seguro a caneta e preencho essas linhas, me sinto no comando da minha história.
Quando as cortinas se fecham e entro no camarim, tiro a máscara e deixo o personagem de lado. Sinto a liberdade de poder olhar no espelho e ver mais que mentiras e farsas. Nesse momento, posso ser de verdade, sem outros farsantes para enganar e plateias que esperam controlar meus movimentos.
Ao abrirem novamente as cortinas, os holofotes fixam em mim, o público me encara com desgosto, e começo a atuar torcendo para que acabe e eu possa abandonar a arte de fantasiar. Um dia irei desmontar o palco, rasgar as cortinas e expulsar a plateia para nunca mais atuar.
Um sonho de liberdade disfarçado pela necessidade de ser ator.
Texto: Além da infância
Autor (a): Paola Zomer de Souza
Professor (a): Carla O. A. Lanza
Escola: SENAC
Além da Infância
Na esquina da avenida principal, havia uma banca de jornal. Entre pilhas de revistas, estava Leo, um menino de onze anos, com olhos que já conheciam o cansaço da vida adulta. O sorriso tímido era oposto a seriedade de suas tarefas.
Leo acordava antes do Sol. Enquanto a cidade ainda dormia, ele organizava os jornais e revistas, se preparando para um longo dia de trabalho. As crianças da vizinhança passavam por ali com mochilas nas costas e brilho no olhar. Para Leo, a escola era um luxo distante que fora substituído por responsabilidades que não o pertenciam.
Um dia, uma cliente conhecida, Dona Antonella, parou para comprar seu jornal e ao ver Leo, perguntou: “Menino, você não deveria estar estudando?”. Leo, com um sorriso sem graça, respondeu: “Preciso ajudar meus pais, senhora”.
Antonella, com o coração apertado, percebeu o absurdo daquela situação. A infância do garoto estava sendo roubada, as mãos que deveriam segurar lápis e cadernos estavam ocupadas empilhando revistas. Enquanto Leo atendia outro cliente, Dona Antonella saiu decidida a ajudá-lo.
Nos dias seguintes, ela não conseguia tirar a situação da cabeça. Antonella conversou com outros clientes da banca sobre ele. Logo, um pequeno grupo se formou, incluindo o dono da banca, que procurou entender a sua situação. Dona Antonella contratou uma organização de direitos da criança e, juntos, elaboraram um plano para que Leo pudesse voltar a estudar.
O primeiro passo foi falar com os pais dele, resistentes, que não percebiam o erro que cometiam. Porém, após muitas conversas e garantia de assistência social, eles finalmente aceitaram e a notícia que Leo voltaria à escola começou a correr pela comunidade.
No primeiro dia de aula, Antonella se ofereceu para levá-lo à escola. Os olhos de Leo brilhavam de animação e emoção. O uniforme escolar, antes um sonho muito distante, agora vestia seu corpo, e sua mochila nova guardava cadernos ansiosos para serem usados. Os primeiros dias de aula foram desafiadores para Leo, ele estava atrasado nas matérias. Apesar disso, com o apoio da professora e de seus novos amigos, ele recuperou o tempo perdido.
Com o tempo, ele ficava mais confiante, e cresceu como um jovem determinado e trabalhador. Inspirado pela sua história, decidiu estudar direito na intenção de ajudar crianças que sofriam o mesmo que ele havia sofrido.
Texto: Crescer é inevitável, recomeços são opcionais
Autor (a): Carolina Maia Silva
Professor (a): Loize Piffer
Escola: EEB Rudolfo Meyer
Crescer é inevitável, recomeços são opcionais.
(Carioca)
Um dia desses, enquanto olhava um álbum de fotografias de minha infância, refleti que tudo era mais fácil naquela época. A vida era apenas brincadeira, fantasia e diversão. Não havia inseguranças, preocupações, incertezas em relação ao futuro, os questionamentos internos (também externos) sobre a profissão que seguirei, os planos para a vida adulta e a avalanche de decisões que acompanham o processo de crescimento.
Crescer é inevitável e importante, porém não significa que seja fácil. Até porque, quem nunca sentiu como se o mundo todo estivesse sobre as costas, ou como se toda vida dependesse de uma escolha? Eu, por exemplo, já experimentei isso algumas vezes.
Houve um momento que sentia a ansiedade de chegar na adolescência, isso na inocência de criança, já que acreditava que seria grande o suficiente para fazer minhas escolhas. Hoje confesso que muitas vezes prefiro deixar para os outros decidirem, pois tomar decisões sem se arrepender com os resultados alcançados, ou perder uma noite de sono por ter agido no impulso, não são experiências agradáveis.
Decepção? Já me decepcionei algumas vezes com amigos e comigo. Parece até que sou especialista…
Uma delas foi na passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio. Eu me inscrevi para vários testes de seleção, respondi várias provas de inúmeras escolas particulares, até consegui passar em algumas delas. No entanto, não conquistei a bolsa 100% e isso acabou com minhas expectativas. Fiquei muito frustrada, pois acreditava que esse seria o único caminho para alcançar um bom futuro. Na minha cabeça, meu sonho de ser médica tinha ido por água baixo e não surgiriam outras alternativas.
Mas há algum tempo, eu estava conversando com a mãe de uma amiga. Ela me falou, que quando somos adolescentes, pensamos que as decisões tomadas agora, são importantes, definirão todo nosso futuro e escolher o quanto antes é o melhor. Afinal, devo fazer faculdade ou começo a trabalhar depois de terminar os estudos? Estudo Medicina ou escolho outro curso? Moro com a minha família ou sozinha?
No entanto, quando se é adulto, você descobre que na verdade a vida é sobre recomeços. Caso não deu certo em um emprego, virão outras oportunidades; a faculdade escolhida não é o que esperava, outras opções poderão ser melhores. Isso me fez entender, não preciso me preocupar tanto em não errar; pois sempre que algo dá errado, é uma chance de recomeçar. Não é o fim do mundo, algo acontecer muito diferente do planejado. O fato de não ter entrado “naquela escola”, não impedirá de conquistar meus objetivos, apenas ampliou meu horizonte para mostrar novas possibilidades. Assim posso continuar sonhando, sem medo de aprender com os meus enganos e simplesmente crescer.
Texto: Talvez um dia
Autor (a): Kenzo Silveira Takahashi
Professor (a): Luciane dos Santos
Escola: Colégio Bom Jesus
Talvez um dia
Nada o que eu faço parece bom o bastante. Não importa o quanto eu estude, o quanto eu me dedique, sempre tem alguém melhor, sempre tem alguém com quem eu me compare e veja o quanto eu ainda estou atrás. Sim, eu sei, eu não deveria me comparar aos outros, você não seria o primeiro a me dizer isso, e provavelmente não será o último, mas ouvir isso não é o bastante. É involuntário, algo dentro de mim que queima sempre que eu ouço que por décimos que sejam, alguém me superou. Uma briga incessante dentro da minha cabeça que paradoxalmente consegue gerar um desânimo e uma vontade de tentar de novo, guiada pela raiva de mim mesmo e pelo medo de um dia olhar para trás e não ver nada além de uma vida vazia.
Eu tento me convencer de que isso é bom para mim, que quanto mais eu me cobrar, mais longe eu vou chegar. Infelizmente, os últimos meses têm me mostrado o contrário. Não importa quanto eu me cobre, eu não chego em lugar nenhum, e ainda acabo exausto olhando para o monótono teto branco, tentando me decidir se vale a pena levantar para mais um dia. Estou cansado, todos estamos. Não importa quantas vezes você olhe no espelho após acordar de um “sono” de 4 horas e diga “está tudo bem, vai dar tudo certo”, isso é uma mentira e você sabe. Não está tudo bem, você nem sabe mais o que está acontecendo, porque você está fazendo tudo isso, o que você vai ganhar se continuar fazendo a mesma rotina que você tem feito por tanto tempo e muito menos se realmente vai dar certo. Todos temos nossos demônios, fardos que carregamos como se não dessem trabalho, afinal, treinamos desde cedo para conseguir escondê-los muito bem do resto das pessoas, até mesmo de pessoas próximas, por medo de afastá-las caso descubram uma versão sua que só você conhece.
Felizmente, pouco a pouco, essa geração de ansiosos está aprendendo a se soltar, desmoronar, sabendo que tem amigos que estarão lá para os colocar de volta no lugar. Ainda não sou uma dessas pessoas, não sei se estou pronto para ser. Criei uma imagem de mim mesmo tão pessimista que não consigo esquecer. Todos à minha volta me dão tanto suporte, dizem o quão inteligente eu sou, o quão capaz eu sou de conquistar qualquer sonho que eu tenha, e mesmo assim eu nunca conheci essa pessoa de que tanto falam. Me faz lembrar de um teste que fizeram com diversas espécies de animais, colocando um espelho em sua frente para determinar se tinham autoconsciência. E pensar que eu ri deles por não conseguirem identificar a si mesmos.
(TKS)
Texto: O vazio que fica
Autor (a): Gizely Lopes Lima
Professor (a): Eduardo Silveira
Escola: EEB Alícia B. Ferreira
O vazio que fica
Sentir saudades de casa é um sentimento diferente, quase inexplicável para quem nunca passou por isso. Aparece quando menos se espera, como um visitante estranho entrando sem bater. Assim, perder a mãe não é como perder outras pessoas. É uma presença que nunca desaparecerá, um vazio que nunca será fechado.
Às vezes, ocorre durante tarefas cotidianas, como dobrar roupas ou preparar refeições. De repente, o simples ato de selecionar os ingredientes, o aroma da comida e o som da panela afundando no fogão lhe faz lembrar do prato que ela só sabia preparar. Por um momento, você quase consegue senti-la ao seu lado, guiando suas mãos.
Às vezes, a nostalgia se manifesta na forma de uma música tocando no rádio ou por meio de um cheiro que alguém sente na rua. É como se o mundo conspirasse para lembrá-lo de que algo está faltando, uma peça importante do quebra-cabeça, sem a qual o quebra-cabeça nunca estará completo. Nesse momento, seu coração aperta e sua garganta aperta, como se suas palavras não devessem existir e estivessem sendo estranguladas, esperando para serem liberadas.
Houve também momentos de silêncio, quando a casa estava silenciosa e tudo parecia quieto. Nos dias de hoje, as aspirações mais elevadas clamam. Você se pega pensando nas conversas que teve, nos conselhos que ouviu e naquele momentos em que “tudo vai ficar bem” – que eram suficientes para acalmar qualquer tempestade. É incrível como, na correria do dia a dia, esquecemos de valorizar essas pequenas coisas, pensando que elas estão sempre ali, para nosso uso.
Com o tempo, você aprende a desejar a vida. Essa emoção não diminui; se torna um companheiro constante. Às vezes, é um bom lembrete para fazer você rir; para outros, é a dor que faz chorar. Mas o mais importante é que é uma prova de amor infinito, mesmo quando a pessoa amada já faleceu. Então, você mantém esse desejo firme em seu coração, sabendo que é um fardo e um presente ao mesmo tempo. Porque, em última análise, perder alguém significa que você o amou profundamente. E por mais doloroso que seja esse amor, você ainda preserva a memória dele…
Texto: Sentimentos Digitais
Autor (a): Beatriz Cercal Cachoeira
Professor (a): Luciana Hresimnou
Escola: SESI de referência
Sentimentos Digitais
A inusitada degustação de uma bebida açucarada foi brutalmente interrompida pelos prantos de uma senhora com feições amarguradas e semblante cansado. A mesma perguntou-me, descaradamente, se poderia me dar um abraço, pois estava necessitada de tal toque acalentador. Imediatamente me surpreendi. Quem seria o indivíduo desconectado que solicitaria abraços sinceros ao invés de compartilhamentos superficiais em tempos modernos.
Questionei-a se não seria mais apropriado eu lhe seguir em suas redes sociais e comentar em suas fotografias algumas frases superficiais. Porém, de maneira rígida, a senhora negou a sugestão e se distanciou. Não conseguia, de imediato, compreender qual era o problema, afinal, a realidade virtual pode nos transcender quaisquer informações, incluindo conselhos, abraços digitais e frases motivacionais.
Senhora mal-educada, negadora de uma ajuda juvenil inocente. Inacreditável que, mediante todas as evoluções digitais adquiridas, o toque físico sincero ainda não tenha sido modernizado.
Ao me dirigir para casa, contei a meus familiares o ocorrido, citando a falta de gentileza por parte da triste moça, que, apesar de meus esforços, preferiu continuar invisibilizada. Perguntei aos mesmos o que seriam abraços, toques gentis e sentimentos reais, e com certa dificuldade, explicaram-me que se trata de envolvimentos amorosos antigos, que tinham como intuito auxiliar o próximo a lidar com qualquer adversidade, que passaram a ser inutilizados perante a alienação digital vivenciada atualmente.
Adquiri um certo alívio após a troca familiar realizada. Inconscientemente, nossas conversas tinham sido integralmente informatizadas, contando ainda com gírias e erros de escrita gritantes. Os abraços foram demasiadamente extintos da convivência, e as fotografias eram os únicos registros de nossos sentimentos e aprendizados. Com a surpreendente conduta da senhora, pude me aprofundar acerca do que são abraços, sentimentos, e emoções, e com absoluta certeza poderei incluí-lo em meu cotidiano, demonstrando meu afeto de maneira sensitiva, o que certamente acarretará na formação de memórias reais e inapagáveis, jamais vítimas da excessiva evolução digital. E que descoberta sensacional! Afagos presenciais e calorosos são muito mais restauradores que compartilhamentos virtuais frios e superficiais.
Texto: De uns tempos para cá
Autor (a): Vitória Nicoletti
Professor (a): Carla O. A. Lanza
Escola: SENAC
De uns tempos para cá…
De uns tempos para cá a minha vida foi mudando de um nível difícil de se lidar. Depois do falecimento do meu pai, a minha rotina mudou completamente, a minha vida em si mudou. Não é a mesma coisa de quando ele estava aqui comigo, as palhaçadas, os sorrisos, as vezes em que ele me fazia chorar, dos momentos em família que tínhamos juntos, entre outros momentos que deu tempo de ele me proporcionar, se acabaram…
Durante esses meus 15 anos, a minha vida era cheia de brigas, intrigas e, ao mesmo tempo, muito amor envolvido entre mim e meu pai, mesmo assim éramos felizes, tendo muito ou pouco. Ele sempre me tratava bem, mesmo não sendo sua filha de sangue e sim a filha de uma moça nova que ele tinha conhecido em uma casa de show. Enquanto meu pai tocava em uma banda, minha mãe dançava pelo salão tentando chamar a atenção dele.
Até porque, “Pai não é quem faz, pai é quem cria”, essa era a frase que eu vivia escutando da minha mãe, e quer saber a real? Isso faz total sentido para mim. Do que adianta fazer um filho e não o amar corretamente, como rejeitá-lo, negar coisas ou itens necessários para ele. Mas se você criar um filho não sendo do mesmo sangue, o amor pode ultrapassar barreiras, se tornando um amor incondicional. Você o cria como se realmente fosse seu filho, dando a ele educação, carinho, amor, e ainda por cima mostrando o significado da palavra “não”, até porque ouvir não é saudável. Você torna seu filho para que ele possa ser uma pessoa melhor a cada dia que passa na vida dele.
Foi assim que eu aprendi a ser como sou hoje, graças ao meu pai. Ele decidiu permanecer na minha vida, trazendo para nós bondade, inteligência, humildade e a teimosia também, entre outras e diversas qualidades que ele tinha. E não, ele não é meu pai de sangue, e não tinha motivos de ficar, pois não era ele quem me tinha feito, não estava comprometido com minha mãe, mesmo assim decidiu ficar… Mas foi ele quem me criou desde quando eu estava no ventre da minha mãe. Ele me mostrou o verdadeiro significado da palavra e da atitude de um PAI.
Independente se você é um filho que não tem um pai de sangue, mas tem um que teve a intenção de permanecer em sua vida, ame-o enquanto você pode, não deixe de amar, mesmo que estejam de rixas…
Texto: Viver a vida ou viver a ilusão
Autor (a): Beatriz de Borba Gazaniga
Professor (a): Loize Piffer
Escola: EEB Rudolfo Meyer
Viver a vida ou viver a ilusão
(Athenas)
É impressionante como do nada sua mente começa a viajar, hoje foi um desses dias, no qual fico pensando sobre o meu futuro. Há momentos que penso nas chances de ter uma vida admirável, como aquelas que são expostas nas mídias sociais, em outros considero essa possibilidade ser apenas mais uma bela e bem construída ilusão para os ingênuos. Sinto-me sem rumo, mais perdida que a pequena “Alice no País das Maravilhas”, tudo novo, diferente, um redemoinho de sentimentos; esperando o próximo assunto para ansiar no mais profundo tártaro da mente.
Acordei com o sol beijando meu rosto, a brisa suave que entrava no meu quarto, tornava o ambiente mais sereno, porém nesse instante uma lembrança invadiu minha mente, recordo da primeira vez que meu pai me levou a um rio. O vento passava tranquilamente nos meus cabelos, a água era calma, gelada e escura. Tão profunda que fiquei com medo de me aproximar, só imaginar a possibilidade de cair, ser engolida lentamente, provocava arrepios e agonia.
Meu pai interrompe meus pensamentos, trazendo-me de volta à realidade. Ele trouxe algumas ferramentas para arrumar uma janela, assim os sons da rua não entrariam, a forma que encontra solução para os problemas é incrível. Imagino se um dia serei como ele, ou melhor, finalmente não deixarei qualquer pensamento cair em meu “Labirinto de Creta”, o que certamente é um caminho sem volta.
Hoje sou eu e amanhã também serei, não quero viver nesses pensamentos fantasiosos, desejo desfrutar meus dias de sol com o vento gelado, sentir aquele friozinho na barriga que com certeza você já sentiu. Preciso conhecer algo novo e escapar desse abismo que me empurrei.