A família Porco

Na metrópole germânica situada ao norte catarinense, na encruzilhada entre as serras Dona Francisca, do Mar e este próprio, localiza-se um dos ares mais abafados e um dos climas mais chuvosos do país. O dia era típico e aportou num conhecido escritório de advocacia da cidade um senhor beirando a melhor idade, evangélico e com um ar preocupado.

Relatava que numa empresa originada na cidade, mas comprada por estrangeiros há poucos anos, estava sendo vítima de “danos imorais”. Tudo porque o líder do setor de produção, e consequentemente toda esta, lhe apelidara de “porco” há uns dois anos, já que visualizaram nele a figura de um porco e, deveras, por ser palmeirense – o porco é o símbolo do time. Várias vezes feito reclamações inclusive por escrito à diretoria da empresa, nunca surtiram o efeito desejado.

O relato continuou chegando a patamares estratosféricos, quando atingiu a honra da família inteira. O filho mais velho era o “porcão”. O mais novo, o “porquinho”. E pasmem, a nora, que também trabalhava na empresa e estava grávida, esperava um “leitãozinho”. Estava sacramentada a “família porco”. Além de repugnante, covardia contra um nascituro, o que obrigou a mesma a sair da empresa e não querer sequer ingressar com ação judicial.

Em sua defesa, já na seara trabalhista, a empresa não negou os fatos. Disse que era comum apelidos na empresa, principalmente no setor de produção, mas que repreendeu o líder da produção e afirmou que nunca chegara ao conhecimento da diretoria tais reclamações.

Testemunhas de ambos os lados confirmavam os fatos – alguns atenuando e outros maximizando os danos. Enfim, a sentença julgou procedente o pedido. Como a nora não quis ingressar em r. Juízo, pai e filhos receberam R$ 7.000,00 (sete mil reais) de indenização cada, entendendo-se pela confissão da empresa em contestação.

Subindo os autos à segunda instância por meio de recursos de ambas as partes – exclusão da indenização ou sua redução e, de outro lado, sua majoração – resultaram na redução da indenização para R$ 5.000,00 (cinco mil reais) cada.

Transitada em julgado e ainda revoltado com o pífio valor da humilhante indenização, o advogado chama os clientes para prestar-lhes conta dos valores obtidos. O pai, evangélico, sempre muito polido e educado, ao saber do valor que receberia, sentencia:

– Doutor, considerando os bilhões que a empresa fatura, isso aqui parece lavagem…

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