A infância de Jesus (Marinaldo Silva)

 

A INFÂNCIA DE JESUS

Marinaldo de Silva e Silva

 

Todas as mães de Nazaré viviam comparando seus filhos com anjos, Maria era a única que o comparava com Deus. Sob constante auto vigília dominava sua vaidade em ser mãe da luz do mundo, da promessa do farol que aproximaria todas as ilhas, sem saber que viria a ser venerada como dona de um ventre livre, grandiloquente, redentor. Mas aos 8 anos, Jesus nada mais era como toda e qualquer criança aos olhos humanos, cheia de questionamentos e olhando tudo com o olhar do maravilhoso, referendando assim o que todos já sabemos: na idade da pureza é que somos mais semelhantes.

Aos 8 anos de idade, sem merencória e rupturas, sem isolamento e com maestria, o menino crescia fazendo pequenos milagres, os primeiros, não narrados nos testamentos porque isso o igualaria a todos. Saía Jesus, fugido dos pais, a brincar nas colinas de Nazaré, onde gostava de cantarolar hinos de Graças enquanto desenhava na areia pequenos seres alados. Na aridez do deserto as borboletas quase eram miragens e, quando uma aparecia, lá ia Jesus atrás delas tentando entender como algo podia ser tão perfeito, iluminando-se por dentro ao ver a luz laranja do solstício atravessando a asa daquela criatura e quebrando-se, excelsa, dentro de seus olhos. Quando chegava em casa e contava à mãe que havia conhecido a glória em forma de passarinho (Sim, o menino Jesus achava que a borboleta era um passarinho) ela abria um sorriso, depois de tanto franzir a testa porque vivia sonhando um futuro de aceitação onde ela teria que suportar na carne algo que só a força do espirito é capaz de suportar. É desse pequeno milagre que aqui escrevo: dessa capacidade tão tênue, e tão intensa, que uma criança tem ao transformar o cenho fechado e franzido no rosto dos pais, devido a tantos problemas, com suas histórias mais inocentes que a correnteza que agride sem saber que agride, e que em tudo resvala e leva.

No dia de seu nono aniversário, Jesus foi buscar uma flor para dar para a mãe de presente, porque era costume em Nazaré as mães receberem os presentes ao invés dos filhos, justo que elas que tinham a vida criado. Lembrou que na noite anterior havia visto no quintal um botão de Íris, decepado ao talo, e daria aquele botão roxo de presente. Espantou-se quando viu que, na manhã seguinte, mesmo decepado, o botão havia aberto e virado um grande sinal de esperança em forma de flor. Era o grande milagre da vida que ninguém havia percebido! Naquele dia ele levou à mãe, deu parabéns e usou pela primeira vez o termo ressureição em alusão ao que era botão e virou flor, e disse: Mãe, um dia eu serei essa Íris.

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