A Joinville que nos acolhe (Maria Cristina Dias)
A Joinville que nos acolhe
Maria Cristina Dias, jornalista e escritora, presidente da Academia Joinvilense de Letras
Assim como tantos moradores de Joinville, sou migrante. No final de 1994, formada há pouco tempo em Comunicação Social/Jornalismo, olhei para os lados e percebi que a minha terra natal, o Rio de Janeiro, não me daria a qualidade de vida que eu desejava para criar minha família, trabalhar, me desenvolver, ser feliz. Era preciso ir embora, buscar uma nova terra para construir a vida. Olhei para o sul, comprei uma passagem e vim.
Quem não conhece esta história? Desde 1851, a data oficial da fundação da cidade, imigrantes atravessaram o oceano para se fixarem em um país com língua, costumes e clima diferentes na esperança de uma vida melhor. E ao longo do século 20, isto se repetiu, desta vez com migrantes de outros municípios de Santa Catarina, do Paraná, de outros estados brasileiros.
E Joinville, de uma forma ou de outra, nos acolheu. A cidade que nasceu como Colônia Dona Francisca em uma área já há muito tempo habitada por moradores de origem lusa e que recebia os indígenas que transitavam entre o litoral e as escarpas da serra do mar, cresceu com o empenho de pessoas que vieram de fora em diferentes épocas – e que continuam chegando em busca de oportunidades. É só olhar em volta para ver os novos migrantes. Como eu, talvez como você.
A cidade que nos acolhe, também guarda sutilezas. Cheguei em Joinville, na época já a cidade mais populosa do estado, no final de 1994. Havia flores nos jardins, as casas ainda tinham muros baixos e grades nas janelas eram uma raridade.
Quase 30 anos depois, muita coisa mudou, é verdade. Os muros ficaram altos, o trânsito já apresenta lentidão e a pobreza se alastra pelos bairros, nos fazendo sair da nossa zona de conforto e enxergar quem muitas vezes é invisível.
Mas ainda é possível ver o Fritz tomando sol no rio Cachoeira, subir ao mirante no final da tarde e caminhar pelas ruas sem o pânico que assola os grandes centros urbanos. Ainda dá para comprar pipoca e ganhar de brinde o sorriso da dona Margarida, no centro. Ou encontrar os amigos no supermercado, antes de ir para casa depois de um dia de trabalho. Tem gente que até olha nos olhos e dá bom dia a estranhos, veja só.
Detalhes de uma cidade múltipla, que cresce rápido e está em constante mudança, mas que ainda recebe quem chega e é um bom lugar para se viver. E que eu não troco por nada.