? “A primeira pescaria” (Else)

A Primeira Pescaria

Else Sant’Anna Brum

      

Era uma vez um menino chamado Adonias, que morava numa chácara muito bonita. Nesta chácara havia uma lagoa formada por uma vertente nascida em terras vizinhas. A lagoa, que tinha profundidade suficiente para que nela se criassem peixes, continuava depois num límpido riacho.

O riacho percorria as terras do senhor Fernando, pai de Adonias, e desaguava num rio que passava perto dali chamado Rio do Policarpo.

O menino gostava de brincar, tomar banho no riacho, soltar barquinhos de papel, trepar nas árvores, espiar ninhos de passarinhos, colher frutinhas e pendurar balanços nos galhos de uma enorme cerejeira.

Mas o sonho dele era pescar na lagoa onde nadavam belos cascudos e roliças traíras. Quando ele completou seis anos de idade, pediu para sua mãe, Dona Rosinha, que lhe desse um anzol.

– Você é muito pequeno para pescar, meu filho!

– Mamãe, por favor, compre esse presente pra mim!

Adonias tanto insistiu que sua mãe resolveu fazer um anzol para o menino. Pegou um alfinete, entortou na forma de anzol, limou-o para formar a farpa, prendeu um barbante, amarrou numa vara e o entregou para o filho.

O menino saiu depressa para sua primeira pescaria. Cavou na horta para encontrar algumas minhocas, colocou uma no anzol e postou-se na beira da lagoa para pescar. Não demorou muito, sentiu que alguma coisa mordera a isca. Puxou rapidamente com bastante força.

Daí a pouco Dona Rosinha veio acudir o filho que vinha correndo e gritando com um peixe pulando dentro das calças. Vocês hão de perguntar: “Como assim?”

É que Adonias usava calças com suspensório, que ficava larga na cintura. Dona Rosinha tirou o peixe com todo o cuidado e falou:

– Ainda bem que é uma traíra, meu filho, porque se fosse um peixe com esporão você estaria todo espetado.

Adonias, entre assustado e feliz, correu para tomar um banho no riacho, falando consigo mesmo:

– Ninguém pode negar, eu já sou um pescador!

No almoço daquele dia, a família se deliciou com a gostosa traíra frita.

O pescador mirim cresceu e nunca deixou de pescar tanto em lagoas e rios da vizinhança como no mar.

Perguntem para sua mulher Dona Ângela quantos peixes ela já preparou e ela vai dizer:

– Sem conta, sem conta…!

 

* Else Sant´Anna Brum, escritora infantil e educadora.

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