Ac. Cristina leu “Mulheres intelectuais na idade média”, de Marcos Costa
“Mulheres intelectuais na idade média: entre a medicina, a história, a poesia, a dramaturgia, a filosofia, a teologia e a mística”, de Marcos Roberto Nunes Costa e Rafael Ferreira Costa. Editora Fi.
Resenha de Maria Cristina Dias
Você já ouviu falar de Faltonia Betitia Proba? Ou de Egéria? Ou ainda de Aelia Eudoxia Augusta? Não? Nem eu. Pelo menos não antes de ler o livro “Mulheres intelectuais na idade média: entre a medicina, a história, a poesia, a dramaturgia, a filosofia, a teologia e a mística”, dos historiadores Marcos Roberto Nunes Costa e Rafael Ferreira Costa, Editora Fi.
O livro nos revela nomes e histórias de mulheres que se destacaram como escritoras e pensadoras durante a Idade Média, em um mundo em que a invisibilidade feminina era a regra. E não era uma ou duas… eram dezenas que, embora tenham uma produção voltada para a Filosofia, Teologia e até Medicina e Dramaturgia, entre outros, não costumam aparecer nos livros destas áreas. Uma ausência que nos faz ter a impressão de que elas ficaram à parte na construção da história do pensamento.
“É corrente afirmar-se que, antes da chamada Modernidade, não há registro de mulheres na construção do pensamento erudito. Que, se tomarmos como exemplo a Filosofia e a Teologia, as quais foram as duas áreas do conhecimento que mais produziram intelectuais durante a Idade Média, não encontraremos a presença das mulheres intelectuais nesse período. Realmente, se nos basearmos em alguns dados empíricos, como, por exemplo, os Manuais ou Compêndios de Filosofia (comumente chamados de História da Filosofia), pelo menos na sua grande maioria, não aparece nenhuma mulher na lista dos chamados Filósofos. Também nos Manuais de Teologia há uma ausência total das mulheres”, explicam os autores na introdução do livro.
O livro demonstra o quanto esse conceito é equivocado ao revelar a biografia dessas pensadoras e mostrar, por exemplo, como elas se posicionaram em suas épocas. Um exemplo é Faltonia Betitia Proba, a “desconhecida” citada na primeira linha deste texto, conforme nos explicam os autores, citando o único livro da autora que chegou aos nossos dias: “Para além de uma função educativa, o Carmen Sacrus traz uma conotação política, quando, semelhante a um profeta, Faltonia Betitia Proba busca enaltecer o cristianismo e combater o paganismo, nomeadamente aquele do imperador Juliano, que pretendia libertar o império do cristianismo e restaurar o paganismo. Para tal, baseada no modelo heróico da Eneida, centra a história na imagem de Jesus, o protagonista, como herói, contrapondo a imagem do imperador como inimigo de Cristo.”
A presença da fé e da religião no conteúdo produzido por essas intelectuais chama atenção no livro, que é dividido em duas partes:
1 – Escritoras religiosas e/ou laicas defensoras da fé cristã
2 – Escritoras laicas ligadas às artes liberais
A primeira parte, que trata de autoras que tinham a fé como matéria-prima, apresenta muito mais nomes. Se essa desproporção se deve ao conteúdo que chegou aos nossos dias (em pouca quantidade) ou se realmente representa uma tendência nos temas sobre os quais essas intelectuais se debruçaram, não fica claro.
Além do conteúdo em si, outro destaque do livro é a forma de distribuição. Lançado em 2019, ele é disponibilizado para download gratuito no site oficial da Editora Fi, que é a primeira editora brasileira de acesso aberto com foco em textos acadêmicos. Uma forma ainda pouco comum (mas que começa a se disseminar) de levar publicações a leitores que de outra forma não teriam acesso a esse conteúdo por diversos motivos. Uma tendência que tem tudo para ser ampliada a medida em que os livros digitais se tornarem mais e mais populares.
O site da editora é https://www.editorafi.org/
Quem quiser ler o livro pode baixar diretamente em