Ac. Fiuza leu “Pois agora, Franklin”, de Onévio Zabot

(Tive a alegria de prefaciar o livro “Pois agora, Franklin” do acadêmico Onévio Zabot. Reproduzo o prefácio, a título de resenha.)                

Prefácio

Uma boa crônica é sempre instigante. Pode trazer uma história que nos distraia, pode conter um conteúdo que nos ensine, pode apresentar uma surpresa que nos divirta ou exibir uma arte que nos deleite. E o bom é que a crônica faz tudo isto rapidamente e nós a degustamos em minutos.

Não precisamos nos preparar para desfrutar um livro de crônicas. Podemos ler um dos seus textos em qualquer momento, na cama antes de dormir, na sala de espera, na fila, no ônibus ou até no banheiro. Vamos então nos surpreender com aquela descoberta, nos emocionar com aquela passagem. Podemos deixar cair uma lágrima ou dar uma boa gargalhada, despertando risadinhas em quem estiver por perto.

Onévio Zabot é cronista, ensaísta e poeta e nos carrega para o seu mundo, neste ótimo livro. E o mundo de Zabot é muito rico. Nascido no oeste de Santa Catarina, ele sempre se viu ligado às coisas do campo e suas histórias. Seguiu esta tendência ao se formar em engenharia agronômica e, depois, ao se tornar líder e político, com posições definidas nas questões rurais e ecológicas. Para se interessar em questões históricas e filosóficas, foi um pulo.

Para sorte nossa, ele não guardou para si as suas histórias. Transformou-as em peças literárias, prosa e poesia. Escreveu para jornais, publicou livros, ganhou prêmios. Hoje é escritor reconhecido e membro da Academia Joinvilense de Letras, onde desfrutamos sua presença amiga.

“Pois agora, Franklin” é um livro variado e agradável. Pode nos trazer um divertido “causo” da roça e depois nos levar a uma complexa reflexão sociológica. Zabot tem um talento especial ao nos fazer pensar em um tema universal a partir de uma simples história do interior. Consegue fazer um rigoroso posicionamento histórico da situação e contextualiza-la. Ele mostra toda sua erudição ao citar suas fontes: filósofos, historiadores, escritores ou grandes políticos. Não se exime de colocar sua própria opinião em temas controvertidos. E o melhor, faz isto em prosa simples e bem-humorada.

Suas memórias nos trazem a rotina da vida na roça e os tipos pitorescos que ele encontrou no interior. Elas contemplam desde as figuras mais exóticas até os verdadeiros mandachuvas da cidade, como os políticos e os padres. Ele nos conta também como foi sua vida de estudante, com os momentos agitados durante o regime militar. Relembra suas dúvidas, suas escolhas.

Recordando a saga dos colonizadores, Zabot nos introduz aos problemas da terra e do campo. Mostra o que viveu ao discutir problemas importantes, como a conservação do solo e da água, as árvores do Brasil e o risco da extinção de espécies, a evolução da meteorologia, as questões dos agrotóxicos e da febre aftosa. Chega a fazer um dueto com Castro Alves, em dois poemas que abordam as queimadas. Aí ele propõe soluções para um campo saudável e nos conta suas conversas com grandes políticos com os quais ele trabalhou, como Pedro Ivo, Luiz Henrique e Wittig Freitag.

As crônicas sociológicas e históricas nos levam bem atrás, à origem do homem, aos motivos das guerras, pescando ideias de Montesquieu a Sartre. Aqui, os textos tomam mais a forma de ensaios. Como governar? Como reconhecer o mérito dos bons funcionários? Seus textos nos fazem refletir sobre a evolução das ideias e dos costumes, desde a antiguidade até hoje, com a influência das redes sociais e o surgimento das fake news. Mostra como isto está na origem do aparecimento de tantos jovens confusos e de políticos oportunistas.

Daí surge a parte mais erudita de seus textos, com densas reflexões sobre a democracia e o contraditório na política, sobre as eleições e suas alternativas, sobre as diferenças entre ser capitalista e socialista, entre ser liberal e conservador, entre parlamentarismo e presidencialismo. Pergunta se é possível a convivência entre liberdade e igualdade. É aí que Zabot mostra a profundidade de suas leituras, com citações da Bíblia a Marx, de Platão a Kant, de Aristóteles a Gramsci, de Machiavel a Bobbio.

Tudo isto desagua na procura obstinada da humanidade pela sabedoria, tão propiciada pelo legado de Confúcio, os exemplos de Buda, a filosofia de Sócrates e os ensinamentos de Jesus. A inquietude dos homens os fez procurar alternativas, de Darwin a Camus, de Eric Hobsbaum a Yuval Harari.

O Brasil é muito rico em bons cronistas. Machado de Assis, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Millor Fernandes e João Ubaldo Ribeiro são apenas alguns deles. Em Joinville, quem não conhece Carlos Adauto Vieira e Apolinário Ternes? Entre os da geração seguinte, Hilton Görresen, Joel Gehlen e outros já mostraram a que vieram.

Aqui eu apresento, com muita alegria, o novo livro de Onévio Zabot, que nos diverte e nos faz pensar.

Ronald Fiuza

 

COMPARTILHE: