Ac. Guerreiro leu “A 25ª hora”, de Virgil Gheorghiu

A 25ª. hora

Nos tempos atuais reler obra que me impactou na juventude e que surpreso encontrei na Livraria O Sebo me permitiu decantar o ocorrido desde a época da Guerra Fria e da polarização ideológica que mais uma vez vem a tona. ” A 25a hora” do escritor romeno Virgil Gheorghiu escrita em 1948 tem experiência autobiográfica e ambienta o périplo vivido por ingênuo camponês nos impelindo ao século XXI. Livro que possibilita dois níveis de compreensão, o mais imediato e que tem fundamentação histórica começa na Romênia na qual desde 1927 existiu a Guarda de Ferro ( que não aparece diretamente) movimento ultranacionalista, fascista, antissemita e promotor da Igreja Ortodoxa, por consequência aproximado à Gendarmeria e que irá permear o drama vivido pelo personagem central, o camponês que ama uma jovem cobiçada por um gendarme, e por isso denunciado como judeu. Será essa sua danação através de campos de trabalho desde sua terra natal, depois pela Hungria, Alemanha e um campo de prisioneiros norte-americano. Em cada um uma desconfiança, sobre o nome, por ser judeu que não é, como romeno odiado pelos húngaros, “escolhido” por um médico fanático como exemplar ariano excepcional e então alistado nas Waffen SS, e como tal depois internado como criminoso de guerra pelos norte-americanos. Observa-se o jogo geopolítico das nações em que uma população pode ser aliada ou inimiga conforme ideologias do momento .

Contudo, em outro nível de leitura, esse mais profundo e alarmante surge a crítica contundente ao nazifascismo por um lado e à democracia americana do outro, em que o homem é desumanizado por uma sociedade que deve funcionar de acordo com regras e estatutos segundo as “necessidades” em que os seres humanos são escravos renunciando às suas individualidades, em que se abandonam sentimentos e relações sociais segundo uma cultura que não admite desvios . A mecanização e robotização como joguete de ideologias polarizadas em que para se aspirar à liberdade deve-se abrir mão da personalidade, em que a ciência através da automação não permite compaixão, inexistindo os princípios eternos do Direito uma vez que a justiça é feita pelos homens e as leis são contraditórias: efêmeras e ao mesmo tempo eternas. O estalinismo comunista totalitário e o capitalismo democrático se contrapõem, mas nesse último que em sua aparência é o melhor dos regimes existe uma teima em querer compreender a vida humana e melhorá-la pela estatística para atingir a perfeição social reduzindo a individualidade à cidadania na qual o homem é uma categoria dentro da tecnologia, apenas como parte da máquina.

A vigésima quinta hora é isso, uma hora depois da última, em que mais nada será possível.

 

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