Ac. Nelci Seibel apresenta Resenha Tripla

 

Resenha tripla

Nelci Seibel

 

Campo de Nozes [2019]

O Lobo do Bucarein [2021]

Geada, Café e Viola [2020]

 

(Autor: Onévio Antonio Zabot)

 

Li esses livros quase numa sequência e pude perceber o quanto nosso colega da AJL (não falo confrade porque não gosto deste termo, menos ainda “confreira”, no feminino).

Como ia dizendo, da minha admiração pela forma de escrever do autor, Zabot. O quanto ele é polivalente e versátil na linha de linguagem que tomam seus escritos, conforme o tema e a situação em que se movimentam.

“Campo de nozes”, versos para a juventude –, um livrinho formado por lindos poemas, repletos de lirismo, de poesia, de nostalgia, tais como “Adeus às breves goteiras”; de beleza, de sonho, tudo trabalhado com uma surpreendente simplicidade que cala ao coração.

Dedicado à sua esposa, filhos, netos e sobrinhos, Campo de nozes deve ter nascido em um momento de grande introspecção, em uma conversa íntima com seu passado, presente e também do futuro.

“O LOBO DO BUCAREIN”, crônicas e causos –, Pela minha ordem de leitura, foi o segundo, cujas crônicas e causos oferecem textos leves, muitas vezes divertidos e com pitadas de humor. Porém, nunca falta a referência ao atentado contra a natureza pelo ser humano hodierno, com agressão às florestas da região, combalindo-se com os animais que veem sua alimentação natural, sempre presente, aos poucos minguando pela introdução do homem, um bicho dotado de razão. Isso gera o empobrecimento progressivo da vida vegetal e animal. Contudo, em meio a isso muitos causos são trazidos à tona, densos, alguns melancólicos, outros engraçados, por aqueles que têm o dom de conta-los com graça.

Esse livro Onévio Antonio Zabot dedicou a sua esposa Angela Maria, já falecida por ocasião da publicação da obra.

 ‘‘Geada Café e Viola” – retrato de uma época –, conforme o prefácio do escritor David Gonçalves “é um quase-conto, quase-romance ou quase-memória, que pode ser entendida como História de uma região através da literatura”.

Em torno do velório de um recém-nascido, emergem os personagens de múltiplas etnias, unidos por suas próprias formas de solidariedade, representando boa parte das raças que compõe a população brasileira. Nas entrelinhas do triste fato lamentam as adversidades dos seus destinos, que em nada se comparam ao sonho daquilo que vieram buscar na profícua terra de Iporã, Paraná, que era a riqueza.

O sonho se desfez num piscar e olhos, quando veio a geada negra que dizimou todas as plantações de café, criando outra realidade ainda pior: o êxodo, gerando os bolsões de sem terra e sem teto em redor das médias e grandes cidades.

O triste fim do almejado “El Dourado” só não parece mais triste ao leitor, pela engenhosa, criativa e verossímil forma de expressão dos caboclos de múltiplas origens, por meio da genial narrativa composta de veracidade, lirismo e ficção de um menino/homem chamado Antonio que a tudo assistia, ou seja, o próprio autor, Onévio Antonio Zabot.

 

Nelci Seibel

Joinville, 29.06.2022

 

 

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