Ac. Simone leu “O oitavo dia”, de Leticia Wietzchowski e Nelson Sirotsky
O Oitavo dia, deLetícia Wietzchowski e Nelson Pacheco Sirotsky
Simone Gehrke
Posso dizer que “ O Oitavo Dia” me pegou pelo ouvido. Um conjunto inusitado de inovações na concepção da obra, anunciado com entusiasmo pelos autores em entrevista de rádio no lançamento, me apressou a comprar o livro.
Um parêntese. É natural que, como jornalista e cidadã gaúcha, com duas décadas e meia de atuação em Santa Catarina (incluindo crônicas semanais em um jornal da Rede Brasil Sul), tivesse interesse na trajetória de Nélson Pacheco Sirotsky e da RBS, maior grupo de comunicação do Sul, que ele dirigiu.
Mas o que ouvi no rádio ampliou minha curiosidade para além do conteúdo. As novidades prometidas começavam pelo formato – um misto de memórias e biografia de Nelson com a história empresarial da RBS (fundada por seu pai) onde ele permaneceu por 45 anos.
A escrita a quatro mãos de Nélson com a romancista Letícia Wietzchowski foi outro atrativo. Como a experiente autora de “A casa das sete mulheres” e de outras quase 30 obras de ficção faria a narrativa de fatos reais que incluíam desde a vinda dos avós judeus da Europa até a chegada dos netos do protagonista? Mais uma característica anunciada na entrevista. O livro entremeava vozes do passado – pais de Nélson e funcionários já falecidos da RBS – com observações dos netos (ainda muito pequenos).
A leitura manteve a expectativa em alta desde o princípio. “Tudo tem um começo. Mas esta história começou mesmo de um final”, afirmou Letícia na introdução, explicando que o Oitavo Dia (que marca a circuncisão dos meninos judeus) era uma referência à vida pessoal e profissional de Nélson no período pós-RBS. Então esta seria uma biografia com olhos tanto no passado quanto no futuro?
Sim, e com elementos da cultura judaica – intensamente cultivada pela família Sirotsky – permeando as quatro narrativas: ‘A árvore da vida’, ‘A chave do cofre’, ‘O oitavo dia’ e ‘Autorretrato’. As imagens também eram surpreendentes. Objetos caros a Nelson – como o primeiro microfone do pai, Maurício, e uma camisa histórica do Grêmio – ilustraram os capítulos em fotos artísticas.
Erros e acertos, realizações e recomeços, ‘O Oitavo Dia’ prende do início ao fim, com uma narrativa original, leve e polifônica, distribuída ao longo de 430 páginas que mal vemos passar. Perfeito? Quase. Faltou abordar os motivos da saída do Grupo RBS de Santa Catarina e o envolvimento do grupo na operação Zelotes.