Alemanha: eleição é uma coisa… (Rodrigo)

Após a divulgação dos resultados da eleição alemã, pode-se dizer que, ato contínuo, começou o segundo turno. Isso, porém, num sentido figurado. É que num sistema parlamentarista, sem partidos majoritários, e com tanto dissenso programático, formar o governo é quase uma nova eleição.

A surpresa das eleições foi a retomada do partido social-democrata, que representa a centro-esquerda alemã. Até meses atrás, contavam com apenas 11%, e muitos apostavam em sua inevitável decadência, a exemplo do que está ocorrendo com o partido socialista, na França.

Em cerca de três meses, após escolher um candidato que o alavancasse, o partido atingiu cerca de 25,8% dos votos, crescendo 5% em relação às eleições anteriores. Nada parecido com os mais de 30% que historicamente possuía, mas os tempos são outros. Os Verdes estão fortes (chegaram a quase 15%) e os antigos comunistas da Alemanha Oriental agruparam-se no chamado Partido de Esquerda. Além disso, sob a liderança de Merkel, a própria democracia-cristã, que representa a centro-direita, aproximou-se de algumas pautas da social-democracia.

Aliás, a democracia-cristã naufragou nas eleições. Caiu cerca de 8 pontos percentuais, e alcançou apenas 24% dos votos. Poucos comentam, mas uma das razões foi o crescimento de uma opção de extrema-direita, a Alternativa para a Alemanha, que até as eleições de 2016 ainda não havia alcançado a cláusula de 5%, exigência para ingressar no Parlamento. Nessa eleição, os extremistas caíram mais de 2 pontos, e ficaram na faixa de 10%.

A formação do governo pode novamente demorar. A opção mais provável é a de uma coalizão entre os social-democratas, os Verdes e os Liberais, que atingiram 10% dos votos. Mas há percalços consideráveis. Ao contrário do que ocorre no Brasil e em tantos outros lugares, uma coalizão, na Alemanha, significa um compromisso entre programas partidários, e não simplesmente a acomodação de interesses pessoais. Nesse ponto, a social-democracia e os Verdes destoam imensamente dos Liberais. Esses não querem aumento de impostos, e nem o aumento do endividamento do Estado. Já os primeiros defendem uma carga tributária maior para os ricos, e acreditam no Estado como capaz de incrementar políticas sociais e ambientais, mediante um pequeno déficit orçamentário. Trata-se de um arranjo difícil, semelhante ao tentado em 2017, quando não houve acerto entre os Verdes, os Liberais e a Democracia Cristã, que liderava o processo.

No limite, outra eleição poderia ser convocada, caso não haja acordo entre os partidos. Essa é, porém, uma hipótese improvável. Assim como o é a possibilidade de outras coligações (apenas entre a esquerda, ou novamente uma grande coalizão com a democracia cristã, agora liderada pelos social-democratas). Vamos conferir.

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