Alessandro Machado – recepção por Joel Gehlen

Alessandro Machado é Major da PM/SC e piloto do Grupamento de Radiopatrulhamento Aéreo – GRAER com milhares de horas de voo. É autor dos livros “Operação Santa Catarina. Ações da 2ª Companhia do Batalhão de Aviação Catarinense na Tragédia do Morro do Baú” (2010),  “Águia Urbana – Aviação Multimissão em Ação e Imagens” (2013), e Abordagens emotivas (2015) , com grande repercussão e aceitação, não apenas, mas especialmente, no universo da PM/SC, que só em seu quadro ativo chega a 12 mil pessoas.

Não se trata de um estilista da linguagem, como um Jura Arruda, ou um construtor de tipos fenomenais, como o Davi Gonçalves e, embora faça da realidade matéria prima da sua escrita, não tem o senso de ordem e de importância que move historiadores como um Apolinário ou uma Raquel; nem o sentido de relevância que está no cerne de jornalistas como Herculano Vicenzzi e Simone Gerke.

Alessandro Machado está mais para um testigo, aquele que conta o que vê. E registra com recursos dos mais exatos, os instantes tencionados que lhe povoam uma rotina de militar, muitas vezes no tênue lapso entre a vida e a morte. Não será o primeiro, nem o mais lustroso a reunir os ofícios de soldado e poeta, posto ocupado com toda glória por um Camões, um Euclides e, entre os catarinetas, o Harry Laus. Mas essa é a condição que o define. E é sob a lente dessa circunstância que devemos ver a sua escrita.

Por outro lado, é sabido que nem só da pena se compõe essa casa, a exemplo da tradição francesa a que se filia, mas de pessoas destacadas em outras áreas do conhecimento. E de todas as atividades de nosso tempo, uma que não se pode descuidar é a da segurança. Misto de herói e de vilão, transitando na fronteira entre a lei e a opressão, agindo sempre em causas urgentes e quase sempre desesperadas, com um Santo Expedito contemporâneo, é uma incumbência pouco conhecida e menos ainda reconhecida, da qual emergem apenas os efeitos.

E desse lugar ao pé de um mundo em constante fratricídio, onde as causas humanas falharam com retumbância, é que nasce a sua escrita.

Uma escrita sem pompa ou suntuosidade, mas que tem a coragem de se fazer missioneira e agir como um sopro que areja a percepção do meio militar, pelas implicações óbvias que a sensibilidade provoca em um ambiente onde prepondera a força e a objetividade. É inovadora difusão que faz da literatura, especialmente com o livro de poemas, em ações do dia a dia, em situações de estresse, tanto em salvamentos, quanto em abordagens criminais, de modo a proporcionar uma perspectiva diferenciada na relação entre policial e sociedade. Demonstra que, mesmo atuando em uma profissão identificada com a violência e a força bruta, é possível cultivar o aspecto emotivo e poético, sem se deixar obrigatoriamente embrutecer pelo ambiente onde atua. Em tempos de desenfreado ativismo midiático-digital, onde todos se comportam como se estivessem armados até os dentes de granadas verbais, o Coronel Alessandro Machado faz o caminho inverso, se desarma de pistolas e fuzis, para manejar palavras.

Não as mais robustas, adequadas e definitivas palavras. Mas as singelas, que em muitos casos só têm de seu a beleza da autenticidade.

Por isso tudo é que lhe dou as boas vindas a essa casa, Alessandro José Machado.

 

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