Ronald Fiuza – Recepção por Apolinário Ternes

Amigos acadêmicos, distinta platéia.

Difícil é a missão que temos pela frente. Saudar a chegada de um novo acadêmico é uma questão de protocolo e fidalguia, mas é, também, reza o costume, o momento de ressaltar as qualidades e méritos do recepcionado.

Diz a tradição que o recepcionado deve ser saudado por um representante da academia, especialmente designado para o ato e que, em nome de todos, dará as boas vindas e o convidará a dar continuidade à sua vida intelectual no acolhimento dos demais pares. Trata-se de ingresso sem retorno. O acadêmico será lembrado toda vez que novas personalidades, em noite igual a esta, lhe sucederão na cadeira, relembrando, então as obras e os feitos de seus ocupantes anteriores. Advém daí a explicação de nossa ‘imortalidade’, porque lembrados e relembrados ao longo das décadas.

É assim desde 1635, quando criada a Academia Francesa de Letras. Tem sido assim, aliás, desde os templos de Sócrates e Platão. No Brasil a tradição existe desde 1897, quando criada a Academia Brasileira de Letras. Em Santa Catarina, um século depois, em 1920. A Academia de Santa Catarina foi instalada pelo tijucano José Boiteux, também criador do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, este no ano 1896, o que o torna a mais antiga instituição cultural do Estado, da qual, orgulhosamente, fazemos parte.

O Dr. Ronald Moura Fiuza é mineiro, casado e tem dois filhos. Vive em Joinville desde 1973. É especialista em Neurologia e Neurocirurgia. Fundador, ao lado de seu colega também mineiro Dr. Djalma Starling, da conceituada Neuroclínica…, que funciona em Joinville há mais de quatro décadas.

 

A vida profissional do Dr.Fiuza é longa, rica e produtiva. Seu curriculum é extenso, tendo ocupado cargos de grande projeção, como o de Secretário de Saúde de Santa Catarina nos anos de 1995 a 1997, de diretor do Hospital São José em Joinville; foi presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, nos anos de 1998 a 2000 e membro titular da Academia Catarinense de Medicina. Sua vida acadêmica é, igualmente, extensa e muito produtiva. Tem pós graduação em Neurocirurgia na Universidade de Munique na Alemanha e Mestrado em Neurociências pela Universidade de Barcelona, na Espanha. É autor de quase 100 artigos científicos, publicados em revistas especializadas em neurologia das mais afamadas universidades do planeta.

O nosso ilustre Dr. Fiuza foi ainda presidente da Associação Catarinense de Hospitais e vice-presidente da Federação Brasileira de Hospitais. Integra os quadros de 15 sociedades científicas em dezenas de países e já organizou 12 congressos internacionais em sua área de trabalho, dos quais, 4 na condição de presidente. Participou ainda, ao longo de quatro décadas, de cerca de 30 congressos e cursos internacionais na área da Neurologia. Em viagens de estudos, esteve em instituições de renome no Brasil, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Japão e Inglaterra.

Médico e administrador, cirurgião e pesquisador, o nosso amigo Dr. Fiuza teve e tem vida intensa e produtiva. Acima de tudo, foi sempre um intelectual dedicado e meticuloso. Um apaixonado pelo cérebro, um homem permanentemente atormentado pela consciência. Deixei por último o registro da face intelectual e de filósofo do nosso homenageado desta noite.

É preciso um cuidado especial para falar de um dos três livros do Dr. Fiuza. Trata-se de um volume de quase 300 páginas publicado no ano de 2011 sob o título A Consciência – uma viagem pelo cérebro.

Não tenho dúvida em classificar a obra como uma das realizações mais apaixonadas do Dr.Fiuza, por que se trata de obra que resgata uma vida inteira de estudos, leituras, pesquisas e reflexões. Tive o privilégio de lê-la ainda em manuscritos, justamente para expressar opinião sobre sua publicação ou não. O Dr. Fiuza estava com receio de que a linguagem da obra fosse muito acadêmica e recorreu ao jornalista para um parecer. A obra foi publicada e pode ser encontrada hoje no imenso acervo da Amazon, a maior livraria do mundo.

A viagem pelo cérebro, ou seja, o livro A Consciência, mereceu elogios de vários cientistas e neurologistas do Brasil e do exterior. Peço licença para ler uma breve citação. Do Dr. Sérgio Pena, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, geneticista e membro da Academia Nacional de Ciências. Ele disse: ‘a leitura evidencia claramente que o autor entende muito desse assunto e demonstra a sua vasta erudição geral. A obra é muito completa. Todos os aspectos são apresentados com grandes detalhes e discutidos em um contexto histórico. O livro vai do big bang ao funcionamento cerebral, passando por Darwin, Freud, embriologia, neuroanatomia e neurobiologia celular.

A viagem pelo Cérebro empreendida pelo nosso companheiro e ilustre acadêmico Dr. Fiuza, se subdivide em duas partes. Na primeira, sob o título Procurando a Consciência na História, estão organizados os primeiros seis capítulos. Tratam, como dizem os títulos, da Filosofia à Ciência; Do fenômeno à propriedade; das cavernas à universidade; da contemplação à observação, das trevas à luz e do Átomo à Vida.

Na parte, Procurando a Consciência no Cérebro, desfilam os novos 7 capítulos, com os títulos a saber: 7 – Da Bactéria ao Homem; 8 Do ovo ao bebê; 9 do Coma aos Sentidos; 10 Da vigília ao Pensamento; 11 da Célula ao Fenômeno; 12 da Sensação à Percepção; 13 da Linguagem ao Eu e 14 Do Milagre à Emergência.

Modesto jornalista e de formação puramente filosófica e humanística, não tenho condições de emitir uma só opinião crítico-científica sobre o livro de meu amigo Fiuza. Posso lhes garantir, contudo, que se trata de livro saboroso, instrutivo, útil, diria que é um manual para a autocompreensão. Um diálogo, diria o inesquecível Montaigne, muito íntimo, entre nossa sempre incontrolável curiosidade e nossa invencível vontade de entender. Não tem o ceticismo e a ambigüidade do autor de Os Ensaios, mas tem informações de cunho científico e médico de dois mil anos, pois, afinal, remonta aos tempos clássicos dos grandes filósofos –que tanto se ocuparam das emoções e dos desejos – quanto nos informa sobre as maiores conquistas dos últimos anos sobre o cérebro, certamente a região mais estudada do corpo humano nos tempos modernos.

Um soberbo livro. Feito aqui, pelo nosso acadêmico Dr. Fiuza, um intelectual apaixonado pelo cérebro, tanto o próprio quanto o de seus semelhantes. A Academia Joinvilense de Letras tem orgulho e honra em recebê-lo em nosso meio. Seja muito bem vindo Dr. Ronald Moura Fiuza.

Obrigado a todos.

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