America first

Não precisa ficar dizendo “eu primeiro”, isso é coisa de chefe de torcida. Ninguém questiona a validade universal do egoísmo. Cada um se defende como pode, garante o seu território, o seu barraco, a sua prole. Mesmo os altruístas e generosos, aqueles tidos como bonzinhos, colocam um limite claro quando pisam no seu calo.

O que é difícil de compreender é como alguém renegar a posição de líder do mundo para se dedicar só a seu nicho. É ainda mais espantoso quando sabemos que ele pode fazer ambos! Se o primata conseguiu finalmente ser macho alfa, se cresceu a ponto de dominar o grande grupo, não há lógica em desistir desse poder para cuidar melhor só do grupinho. Ninguém faz isso. Com o poder na mão, administra-se bem o grupão e ainda garante o melhor para os amigos. Se alguém desse microcosmo não consegue entender como funciona o universo e pede privilégio adicional, cabe explicar que isso pode não ser uma boa. É só dizer que “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte”.

Os americanos moldaram o mundo do pós-guerra. Criaram e comandaram as instituições responsáveis pela segurança, pelo comércio, pelas relações internacionais, pelo planeta. Transformaram-se na grande liderança, definitivamente respeitada, admirada, temida. Bem ou mal, têm sido eles os atores que movimentam as peças do complexo tabuleiro internacional. Como pode agora vir um cara para desmanchar tudo que eles mesmo fizeram e ainda encontrar gente para votar nele? Como pode vir um bebê grandão e malcriado dizer que “não quero mais brincar “? Um país com inteligência para mandar uma nave para bem longe no espaço com mensagem de paz para alienígenas não veria sentido em construir um muro em suas fronteiras para afastar mexicanos.

As instituições e os acordos internacionais que o atual governo americano agora denuncia foram criados por eles mesmos. As informações que embasaram vários dos tratados agora renegados se originaram de fontes ou cientistas americanos. Nenhum governo anterior era paternalista ou desconsiderou os interesses do próprio país, isso é balela partidária. As decisões foram tomadas para proteger e exportar o estilo de vida americano e têm tido sucesso! Se os americanos têm o ônus de financiar tropas para intervir em outras regiões ou de custear parte de organizações multinacionais, têm o bônus de comandar o espetáculo.

Além de tudo, os americanos deveriam ser mais cautelosos, porque tem gente de olho no poder. Se não quiserem, outro quer. Em qualquer grupo de primatas (como nós), o macho alfa sabe que deve construir alianças, fazer concessões. Se não fizer isso, o macho beta (hoje de olhinhos puxados) o fará.

Trump é uma lástima. Sua campanha foi uma lástima, mas todos pensamos que era conversa eleitoreira, voltada para a parcela insatisfeita da população. Seu discurso de posse continuou sendo uma lástima, e já trouxe preocupação: Será que o cara pensa assim mesmo? Sua gestão confirmou, uma lástima. “Ou é burro ou não tem arte!”

Por que estou aqui a falar mal dos outros? Porque eles estão aqui. E porque nós estamos lá. Porque o mundo é uma coisa só, fronteira é ficção. Porque é melhor ver alguém do ocidente liderando esta história toda. Não quero que meus netos tenham que aprender mandarim no colégio!

 

 

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