📚 Andreia (Marinaldo)
TEXTO PRESENTE PARA ANDREIA EVARISTO
“Quantas vezes a gente tem coragem de se lançar rumo ao que nos amedronta? Quantas vezes deixamos de viver pequenas e grandes conquistas da vida porque nos mantemos no raso, onde dá pé? A vida vale pelos minutos de satisfação de termos vencido nossos próprios limites”.
A professora Andreia entra na sala e todo mundo a olha com instigação. Sua entrada cotidiana geraria uma crônica, várias. Uma aluna do terceiro ano havia lido sua publicação, cronista que é, e ficou estimulada a escrever também a sua. A menina havia copiado em seu caderno, o trecho acima, do texto Lição de Verão que ela havia escrito, numa quase noite, imaginando o menino lembrado que lhe dizia tanto. A professora Andreia, mulher ligada nos 220, está sempre com a palavra-ferramenta pronta para ser usada. Tem horas que fica pensando que vai escrever sobre a máquina do futuro e presenteia o texto com passados, glorificados, do futuro que vislumbra em sua memória. Quando um aluno, um aluno, lhe pede ajuda, ela se edifica. Uma professora inteira, aquela hora, arquitetada para escrever no silêncio do outro a sua lacuna contributiva de amor. Em determinado texto, em homenagem ao seu amigo Jura Arruda, ela diz que está faltando coração nas palavras. Diz que falta pulsar, hesitar, enfrentar, e pergunta: “Que história você quer escrever, afinal?” Que história você quer escrever, Andréia? Que história está escrevendo? Que poesia tem tirado das pedras? Que alegorias tem inserido nos olhos? Que ouvidos você tem florescido? Em quais mentes você tem inventado? Em quantas cabeceiras você virou uma bromélia? Em que esquina você cruzou com uma menina que antes sentado numa carteira agora carrega uma outra? Qual é a crônica da sua vida? Eu vejo a sua vida, lida por mim, numa crônica nada crônica porque lhe antecipo leve:
Certa manhã uma professora caminhava em direção ao seu chamado. Como um menino que mesmo sem sentir os pés no chão se arrisca às profundezas, aquela professora, cheia de beleza, dessas belezas que só sabem crescer nas almas, adentrou na correnteza para arrumar uma boia que, no meio do mar, estava em sentido anti-horário, jogando a luz do farol para o lado contrário…