Cabana (Elizabeth Fontes)
CABANA
Elizabeth Fontes
Da janela da minha infância, vejo o rio. Vejo a ponte. E o pé de jabuticaba.
Vejo o céu e os verdes emoldurando árvores.
Da janela, voo em asas e pássaros para acordar meus sentidos e chamar os sons mais antigos dos meus ouvidos.
Janela abre meus olhos para a cerca do quintal, as roupas brancas quarando e o cheiro morno de sabão em pedra.
Janela leva meus pensamentos até as montanhas e seus azuis, e traz as flores de “Dorme Maria” ao pé da estrada.
Pela fresta da minha infância, revejo o mundo das simplicidades e das singelezas que bordaram minhas lembranças de todo afeto: pai e mãe na cozinha, o café no bule esmaltado sobre a mesa. E a janela a adentrar os sonhos vindos em feixes de sol, luzindo nossa cabana do mais puro e sagrado brilho de ternura.
Diante de mim, todo o passado a fazer-me companhia.
Debruçada de olhares sobre o tempo, eu choro.
Janela despertou-me menina.