Éden (Salustiano Souza)
Éden
Na aurora da vida silentes preces murmurei,
Veladas promessas, sonhos estavam por vir.
A ventura soçobrava quimeras que sonhei
A penumbra instigou minha alma a partir.
Por templos, portais e terreiros vagueei,
Na busca do sacro, por bênção e luz.
Descobri que a graça tem pesado preço,
E o fardo dos erros é quem mais seduz.
Impropérios contra o aviltante jugo bradei
Silentes golpes a fustigar a alma
Empedernido, sem rosto, pelo hades tateei,
Fel e absinto, no coração resto de trauma.
Devoto de chorosos olhos, flores cultivei,
Enquanto ao redor florestas sucumbiam.
De vida verdadeira nove meses passei,
O resto, fugazes sombras que se esvaiam.
Em incontáveis naus sucumbidas na arrebentação,
Terras longínquas avistei, fantasma me senti.
Na terra dos meus, estrangeiro em atroz solidão,
Oceanos de irascíveis lágrimas verti.
Portanto, não me sussurres sobre o porvir,
Acredite, o éden é este breve momento.
Da maçã proibida, sementes somos a fugir
Marcados, qual gado, em incandescente tormento.
Salustiano Souza
Outubro/2024