Canção das papoulas
Rubro punhado de beleza,
Um sorriso feito flor!
Extasia-nos os olhos –
E já deixou de existir!
Imagem do efêmero?
Gratuidade
De um momento de felicidade!
Que importa que ontem não era?
– Verde cápsula fechada,
Relicário de um segredo
Escrito por um dia
Em quatro pétalas de sangue.
Que importa não reste amanhã
Mais que outra cápsula verde,
Estojo da vaga promessa
De uma nova floração
Numa nova primavera?
– Se a semente subsistir…
O que importa é o presente!
O momento da eclosão!
A um carinho do sol
O meu jardim
Abrindo em rubro sorriso
Seus lábios de carmim.
Em cada papoula a sorrir
Alguém sorrindo pra mim.
Murcha a papoula.
O sorriso nos lábios amigos
Não dura também.
Tudo efêmero?
Não!
Restou a semente
No verde bojo da flor,
Para quando o amanhã
For um novo hoje beijado de sol.
Perdura a amizade
Que gera o sorriso
No dom gratuito de querer bem.
E a lembrança
Do que ontem foi –
E a esperança
Do que
! será amanhã –
É o eterno agora
Cor-de-papoula