De Baunilha e Cacau (Zabot)
DE BAUNILHA E CACAU
Zabot
Instigante o texto publicado por Luiz Mors Cabral – Baunilha e Cacau. Plantas e Civilização, o livro (Edições de Janeiro, 2016). Largamente empregada como aromatizante, a vanilina, extraída da orquídea (Vanilla panifolia) é a segunda essência mais cara do planeta.
Dentre as orquídeas, é a única cultivada com fins alimentares. Trepadeira de flores pequenas. Verdes. Mas de vagens perfumadas. Favas d’ouro.
A origem: regiões tropicais da América. Especialmente do México. Hoje, Madagascar na África se destaca como polo produtor. Isso quando falamos de plantios. De lavouras de baunilha.
Ressalte-se, no entanto que – dada demanda, e dificuldade em cultivá-la -, no mercado há as artificiais, extraídas a partir da ligna presente nos vegetais. Importante, contudo, ressaltar: mais de 300 substâncias se encontram presentes naquelas provenientes de cultivos. Vamos aos fatos.
Montezuma, imperador asteca, ofereceu a Hernan Cortês(1519) a bebida, xocolatl que era somente destinada aos deuses. Naquele momento, num – simples ato de cortesia – de uma tacada só – , o mundo conheceu não apenas o chocolate proveniente do cacau (Theobroma cacao), mas também uma essência contida na bebida que despertou a curiosidade do temido conquistador espanhol. Na língua nauatle – uma das faladas pelos astecas -, xoco quer dizer amargo e, atl, água.
O padre Franciscano Bernardino de Saghún percebe sua importância. Descreve características botânicas da espécie. Publica o livro Códice Florentino, obra encontrada mais tarde na biblioteca da ordem religiosa em Florença.
Introduzida na Europa, embora os esforços, não vingaram os cultivos. Em 1836 o botânico Charles Morren descobre o motivo: ausência do agente polinizador, a abelha Euglossini – endêmica do México.
A surpresa: um jovem escravo da ilha de Reunião , Eduard Albius, desenvolveu um método simples de polinização. Método Albius, empregado até hoje. A curiosidade: Eduard tinha apenas 12 anos quando fez a descoberta.
Luiz Cabral cita um fato curioso. Segundo ele, em 1985 a Coca-Cola ousou mexer na fórmula tradicional, um segredo guardado a sete chaves. Colocada no mercado a Nova Coca-Cola, no entanto, não agradou os consumidores. Reduziram-se as vendas. Nesse período – uma estranha coincidência -, o preço da baunilha caiu no mercado mundial. E Madagascar – maior produtor -, viu os estoques encalharem. Com o retorno à fórmula antiga de parte da Coca-Cola – o mercado da baunilha retornou aos patamares anteriores. Luiz Cabral, concluí: ficou evidenciado o emprego da vanilina no famoso refrigerante. Enfim, um dos segredos, supostamente revelado.
Uma curiosidade: o chocolate, chegando à Europa provocou um verdadeiro frenesi. Mexeu especialmente com os monges belgas que o apreciavam sobremaneira. O fato levou a Santa Sé emitir uma tese: Liquidum non frangit Jejunum( líquidos não quebram o jejum). Não por acaso das sete cervejas trapistas, seis são de origem belga.
Plantas e Civilização – Fascinantes História da Etnobotânica, de Luiz Mors Cabral, recomendamos. Boa leitura.
Joinville, 23 de fevereiro, 2024
Onévio Antonio Zabot
Engenheiro Agrônomo