De braços cruzados
Estou de braços cruzados. Estou em greve. Estou na posição de defesa contra os devassos que detém o poder. Estou em total desacordo com a situação política, que impediu a primeira mulher eleita para o maior cargo do país de terminar seu mandato, sob alegações escusas e que, após golpear a nação em comprovada politicagem, mantém arma em punho e ataca os direitos dos trabalhadores, como se o povo fosse o culpado pela crise instalada.
Estou de braços cruzados, num gesto explícito de não aceitação às tramoias e às caras lavadas. O Brasil não é mais o Brasil dos cara-pintadas, hoje é o país dos cara-lavadas, em que o presidente da Câmara dos Deputados, na sessão de impeachment que condenou o país ao retrocesso social, é desonesto e está preso. Você percebeu o que isso significa? O condutor do processo de impeachment não tem a mínima moral para julgar, mas julgou. E ao lado dele, outros políticos corrompidos, votaram em nome de Deus e da família. Não lembro de um único voto naquela sessão fazer referência ao que se chamou de pedaladas fiscais, por sinal, muito utilizada em todas as esferas. Essa imensa maioria de votantes está sendo investigada. No entanto, ao contrário da presidenta eleita, continuam soltos e atuantes, e agora votam para mudar os direitos trabalhistas, fragilizando o trabalhador e permitindo poder quase irrestrito ao empresário.
Estou de braços cruzados porque é uma forma de dizer que não, que está errado, que somos muitos e muitos formam a maioria, e que a maioria deve ser ouvida em uma democracia. Mas parece que eles estão surdos, a própria Justiça parece surda, não bastasse a venda nos olhos e a balança em desequilíbrio, como símbolo.
Hoje, cruzo meus braços como quem empunha armas em uma guerra. Hoje fazem-se escudos, mas hão de ser lança e, um dia, não muito distante, hão de erguer-se em gesto de vitória. E o Brasil vai retomar seus avanços sociais, tão combalidos pelo mau-caratismo político, pela ganância financeira e pela falta de responsabilidade, num sistema que privilegia a poucos e oprime a tantos.
Amanhã volto a abrir os braços para abraçar ao menos a esperança de que ainda haverá esperança.