Dia do livro

Desde que me deparei a primeira vez com a magia que podia vir das letras, fui enfeitiçada. Não podia ver qualquer conteúdo escrito: com uma fome que só meus olhos tinham, devorava cada sílaba que os sinais gráficos eram capazes de produzir. Das placas de rua, quando procurávamos uma casa em Joinville, para as revistas em quadrinhos foi um passo bem pequeno. Dos quadrinhos para os livros, menor ainda. As letras me encantavam como o canto da sereia sempre encantou marujos e marinheiros, ávidos por amor e sedentos por companhia.

Assim, em meus muitos anos de leitora, conheci pessoas incríveis, com suas histórias ricas em detalhes e cheias de sentimentos. Algumas, alegres e divertidas, daquelas que fazem rir até a mais carrancuda das pessoas. Outras, tristes como a despedida final, daquelas que arrancam lágrimas até mesmo de olhos cansados da jornada. Cada uma com sua espetacular beleza, única, especial.

Do lado de cá das páginas, do lado de quem imprime no papel as dores que extravasam a alma, é meu primeiro dia do livro. Curiosamente, essa semana, pude comprovar o impacto que minhas histórias podem produzir nas pessoas.

Saídas do meu “Chiclete pra guardar pra depois”, algumas crônicas femininas por mim declamadas causaram identificação imediata – e algumas risadas que comprovavam tal fenômeno – em mulheres na plateia de locais totalmente diferentes, como um auditório de faculdade e um grupo de artesãs. Todas se viram no papel da mulher que, diante de um espelho de provador de loja, examina cada centímetro de celulite e morre de ódio por reconhecer ali a punição pelo pecado da gula. Elas se divertiram comigo, e eu, mais ainda com a reação delas.

Pela internet, um conto, do mesmo livro, compartilhado numa rede social de escritores, fez um amigo virtual assustar a própria mãe, que correu em socorro ao homem barbado que chorava sozinho em seu quarto, após finalizar a leitura da minha história. Impagável!

Não há nada que um escritor queira mais nessa vida: tocar as pessoas com emoções autênticas, despertar sentimentos e sensações adormecidas que brotam nos olhos e nos lábios, como se a ficção no papel ganhasse vida real, como se cada cena pensada e transbordada em palavras fosse um pedacinho da história do mundo que se escreve a cada novo parágrafo.

Feliz Dia do Livro para quem lê! Feliz Dia do Livro para quem escreve!

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