📖 Discurso de posse de Maria de Lourdes Zimath

Discurso posse na Academia Joinvilense de Letras

 

Meus cumprimentos a Presidente da Academia Joinvilense de Letras, Acadêmica Maria Cristina Dias,

ao Vice-presidente, Acadêmico Ronald Fiuza,

à Secretária Geral, Acadêmica Else Sant’Anna Brum,

E na pessoa da decana, acadêmica Irmã Clea, cumprimento toda a Academia Joinvilense de Letras,

Saúdo o confrade Reginaldo Jorge dos Santos hoje empossado,

Cumprimento os Membros da mesa de honra,

O Senhor Secretário de Cultura e Turismo, Guilherme Gassenferth, em nome de quem cumprimento as demais autoridades aqui presentes e já nominadas pela  dedicada  acadêmica Nelci Seibel,

Um cumprimento virtual a todos e a todas, amigos e amigas que nos assistem pelo canal do Facebook.

Na pessoa da minha netinha Cecília, eu saúdo as crianças que todos nós já fomos.

Senhoras e Senhores

De início quero manifestar a minha gratidão pela generosidade do voto que permite a minha admissão nesta Academia e, ressalto a forma acolhedora com que recebe aqueles que promovem a cultura, independentemente de serem escritores de profissão e vocação.

Agradeço especialmente à amiga, acadêmica Sueli Brandão, que além de incentivar-me, me introduziu na Academia de maneira tão gentil.

Rendo, igualmente, meus agradecimentos ao amigo e médico, acadêmico Ronald Fiuza, pelo decisivo  estímulo.

Também sou grata aos acadêmicos, alguns conhecidos e outros, amigos de longa data, os quais gostaria de mencionar um a um, contudo, não o faço em respeito ao tempo previsto pelo cerimonial.

Agora, peço todas as vênias para vos trazer fragmentos do meu passado. E o faço como forma de ilustrar como a Literatura pode  entronizar-se em nosso mundo como a rainha dos  versos de Fernando Pessoa, especialmente quando este diz “(…) Amei outrora a rainha e há sempre na alma minha, um trono por preencher”.  

Passo a excursar.

Nasci em Joinville.

Tive uma família que investiu com muito afeto na minha formação.

Com razão a confreira  Elizabeth Fontes: “os pais são os primeiros semeadores, preparam os filhos para a terra de uma vida inteira.”

Estudei em boas instituições de ensino. Tive professores fascinantes e ímpares como a Professora Herondina da Silva Vieira;

tive acesso à bons e diversificados livros, desfrutei de boas companhias e pude fazer viagens e amigos que alargaram meus horizontes.

Cedo Ingressei no mundo da leitura.

Lia aquém e além da Escola.

Eram publicações como “Diversões Escolares”, “Diversões Juvenis”; Reader’s Digest e Coleções da literatura infantil: Monteiro Lobato, Lewis Carroll, Mark Twain, “Contos e Lendas dos Irmãos Grimm”.

Na galeria de contos, maratonei em um clássico do mundo árabe:  as “Mil e Uma Noites”, obra que me fez perceber a importância da palavra e de seu uso estratégico para convencer e seduzir.

Nas revistas “Manchete”, “Fatos e Fotos” e “O Cruzeiro”, devorava as crônicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e as historinhas hilárias de Pedro Bloch.

Na adolescência abracei-me com Machado, Camus, Simone de Beauvoir, Sartre, Victor Hugo, Saint-Exupéry, Garcia Marques, Shakespeare, Huxley, Hemingway, Cervantes, Dostoiévski.

Sorvi o lirismo de Gibran, a poesia, de J. G. de Araújo Jorge; bebi da doçura de Cecília Meireles e da sabedoria da dupla Drummond e Quintana. Fiquei submissa à catequese poética de Lindolf Bell, e me emocionei com “Toi et moi” em Paul Geraldy. No mais, comecei a amar o poeta dos poetas, Fernando Pessoa.

Fui alfabetizada por minha avó, Professora Maria Madalena Lopes Sant’Anna. Meu avô, um farmacêutico pesquisador, Accioly Hugo Duarte Sant’Anna foi o meu mentor. Ele ensinou-me a ler reflexivamente, com a avidez de uma traça e o olhar de um ourives.

Costumava indagar quais as ideias importantes do texto lido.

Era comum eu ter que retomar a leitura para responder aos seus questionamentos.

 Comecei a escrever instigada por temas que me davam enorme inquietude:  a distribuição desigual de direitos e deveres entre homens e mulheres, e a prática, sutil ou escancarada, de uma moral para os homens e outra moral para as mulheres.

Publicava meus artigos no Jornal A Notícia, não sem antes passar pelo zeloso crivo do querido amigo e acadêmico Apolinário Ternes.

Meu ativismo não incitava queima de soutiens em praça pública, mas apontava para a importância de atitudes que redefinissem papéis no ambiente privado e, oportunidades para as mulheres, no espaço público.

Clamava por alterações no ordenamento jurídico que conferissem um locus digno para as mulheres.

Meu fascínio pelo Direito foi ganhando corpo. Sucumbi à Rui Barbosa, quando tive nas mãos a “Oração aos Moços”.

Fiz o Mestrado em Ciência do Direito.

Combinei Advocacia e magistério jurídico por longo tempo.

Abandono os resgates da primeira pessoa do singular e passo  a  falar sobre as trajetórias do patrono e da última ocupante da cadeira 40.

 São eles, Wolgang Amadeus Ammon e Iraci Schmidlin, respectivamente.

Ambos, notáveis pessoas públicas que, a seu tempo e modo, marcaram a cultura Joinvilense.

 Wolgang Amadeus Ammon nasceu em 1869 e faleceu em 1938. Espelho de empresário e escritor, nasceu em Neustadt, uma localidade próxima de Berlim.  E emigrou com os pais para o Brasil aos 17 anos. Fixou-se na cidade de Santos e posteriormente, na Colônia D. Francisca. Possui uma obra numerosa e diversificada. Uma fonte de seus escritos encontra-se no arquivo de imigração alemã, do Instituto Martius-Staden e na monografia de Ingrid Ani Assmann.

Muitos dos seus textos não foram publicados.

Quase todos os seus escritos estão em alemão gótico. Quando os publicava, fazia-o simultaneamente, no Brasil e na Alemanha. A cuidadosa escolha dos títulos, especialmente de seus artigos revela a preocupação com aspectos culturais e étnicos dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil.

Para Wolfgang, o indivíduo pode ser protagonista e ter voz na vida política e social através de seu título de eleitor.

Apregoava que a união da coletividade em torno de um ideal comum pode ser determinante para a preservação da vida de cada um.

Ao que tudo indica tinha forte liderança na comunidade.

Ao mesmo tempo em que, por uma questão de solo, exaltava fidelidade à Pátria brasileira, pregava, por uma questão de sangue, o respeito à cultura dos antepassados.

Seus temas vão desde a poesia ao quotidiano do colono com suas agruras e alegrias.

Hoje Wolfgang é nome de rua, em Joinville e em São Bento do Sul.

A antecessora da cadeira 40, Iraci Schmidlin, foi professora no colégio Celso Ramos; Mestre pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre; docente da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Supervisionou o Projeto Rondon em Joinville, projeto que tem a participação voluntária de universitários para identificar medidas capazes de tornarem autossustentáveis comunidades em risco social.

Professora Iraci foi secretária da Educação durante os mandatos dos prefeitos Nilson Wilson Bender, Harald Karmann e Wittich Freitag.

À frente da Pasta organizou o Plano de Cargos e Salários do Professor Municipal, construiu escolas e em sua gestão inaugurou a Escolinha de Artes Fritz Alt, o Museu do Sambaqui e o Arquivo Histórico.

A imortal Iraci organizou a primeira Feira do Livro de que se tem notícia em Joinville.

Dona de um português primoroso. Era perfeita!

Cabia-lhe como uma luva, a citação bíblica do profeta Tiago, capítulo 3, versículo 2 quando averba: “Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito”.

Foi a primeira mulher a cursar a Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro.

Esteve sempre ligada à arte e à cultura.

Tinha um olhar especial para artistas de Joinville, como por exemplo, para Mário Avancini, um calceteiro de ruas.

O Centro Integrado de Educação do Jarivatuba ostenta o seu nome e tem, intra e extramuros, foco na cidadania.

Em apertada síntese, eis a obra da minha antecessora.

Quanto a mim, nesta cadeira 40, sinto-me tão ousada quanto Júlio Cesar, que, ao atravessar o Rubicão bradou “alea jacta est”. A sorte está lançada!

 Para finalizar, com o coração plugado em Fernando Pessoa, eu vos afirmo:

A minha Pátria é a Língua Portuguesa e eu a defendo usando a mais poderosa de todas as armas: a Palavra!

Muito obrigada!

Joinville, 11 de novembro de 2021.

Maria de Lourdes Bello Zimath

 

 

 

 

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