Discurso de Posse de Nielson Modro
Cumprimento a todas as autoridades presentes já nominadas, aos acadêmicos da Academia Joinvilense de Letras na figura de sua presidente Maria Cristina Dias, alunos e professores de Letras, amigos, familiares e demais convidados. Para não ser ludibriado pela memória nomeio os acadêmicos Maria de Lourdes Bello Zimath e Reginaldo Jorge dos Santos, responsáveis pela minha apresentação à Academia Joinvilense de Letras, e Donald Malschitzky, que assume a vaga de sócio correspondente, estendendo assim o cumprimento a todos os aqui presentes e também a quem acompanha online.
Venho de uma família simples mas que sempre prezou pelo estudo e leitura. Os textos sempre se fizeram presentes em nosso cotidiano. Meus pais, ambos professores da área de exatas, sempre prezaram pelo tripé: honestidade, estudo e trabalho. Provavelmente a maior herança que pode ser legada a qualquer um. E em minha casa a estante de livros sempre foi o principal móvel da casa, tratado quase como um altar onde haveria histórias e mais histórias a serem descobertas.
Histórias…
Meu primeiro livro foi escrito junto com alguns colegas do ensino primário. Recordo que deveria ter cerca de sete anos de idade e redigimos a oito mãos uma história ficcional cujos personagens eram animais. A história foi datilografada, tomou formato de livro que foi exposto na parede da sala de aula junto a outros trabalhos diversos. Meu primeiro livro e minha primeira decepção já que todo o orgulho do trabalho realizado se foi com o furto do mesmo por algum aluno do então curso normal, atual pedagogia, que ocupava a mesma sala no período noturno. Deveria ser bom aquele livro!
Após, publiquei oficialmente 23 livros abrangendo áreas como literatura, cinema, quadrinhos, ficção e história. Destaco aqueles que fazem parte da história de Joinville: Joinville: A Capital da Dança – 1º ao 15º Festival (1998); O Cão Tarado (2009 – com Sandro Schimidt); Os Monstrinhos do Rio Cachoeira (2011 – com Geraldo Poerner e Luciano Rockenbach); e Acorde (2021). Aliás, o livro Acorde resgata as colunas sobre música publicadas no final dos anos 80 e início dos anos 90 no Caderno Anexo do Jornal A Notícia. Há alguns anos fui entrevistado sobre este período para uma dissertação de mestrado e a então orientadora ao me encontrar certo dia comentou que não sabia sobre este meu trabalho e quase que numa confissão afirmou: “você faz parte da história!”.
Por ocasião do falecimento de meu pai minha ex-cunhada me abraçou longamente e confidenciou que todas as vezes que encontrava com ele a maior alegria dele era vir orgulhosamente cumprimentá-la tendo em mãos um novo livro meu. Ele que vindo da roça chegou a professor universitário sabia o valor da leitura.
Possuo duas graduações, em Letras e em Direito. Três especializações nas áreas de Linguística, Literatura e Direito. Três mestrados nas áreas de literatura Brasileira e Direito. E um doutorado na área de Direito. Em 1994, durante meu mestrado em Literatura Brasileira, por diversas vezes tive que argumentar com meu orientador para poder desenvolver o trabalho com o autor que eu gostaria. Os questionamentos eram sobre quem era aquele novo autor e o que seria dele e de sua obra depois de 20 anos. Pouco mais de 20 anos após a defesa da minha tese Arnaldo Antunes era o poeta mais recorrente enquanto tema estudado no meio universitário. E minha dissertação foi o primeiro trabalho acadêmico sobre sua obra.
Há alguns anos vi uma primeira citação de uma obra minha. Sensação estranha e ainda me causa estranheza descobrir que há já cerca de uma centena delas, inclusive em outros países e que há livros meus no rol de referências bibliográficas de cursos espalhados pelo Brasil, incluindo-se o Mestrado em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina que na disciplina Fundamentos e Metodologia do Ensino do Direito elencava nada menos que cinco livros meus, a saber: O Mundo Jurídico no Cinema, Artigos Esparsos, Cineducação 2, Nas Entrelinhas do Cinema e Cineducação em Quadrinhos.
Enfim, muito sinteticamente posso afirmar que aquele menino que há muito adotou a cidade de Joinville como sua e que busca em seus trabalhos valorizar aquilo que aqui é produzido assume agora a cadeira número 12, cujo patrono é Eduardo Krisch e sucedendo ao fundador Wolfgang Olaf Pedro Kress.
O patrono da cadeira 12, Eduardo Krisch, nasceu na Áustria 6 de julho de 1836 e faleceu em Joinville em 3 de março de 1903. Emigrou para o Brasil com 27 anos e em 1868 obteve a cidadania brasileira. Foi eleito vereador, trabalhou por mais de 20 anos para a Sociedade Colonizadora de Hamburgo construindo estradas, pontes e demarcando milhares de lotes coloniais. Não era médico diplomado, mas tinha conhecimentos, com os quais pôde amenizar problemas de saúde de imigrantes naquele inóspito mundo no meio das matas.
Meu antecessor, Wolfgang Olaf Pedro Kress nasceu em Taió em 27 de janeiro de 1931 e faleceu em Joinville em 07 de março de 2007. Wolfgang foi farmacêutico e dedicou boa parte de sua vida ao Laboratório Catarinense, além de se notabilizar na presidência da comunidade Luterana. Gostava de escrever artigos em jornais e editou o livro “Vida Saudável: prolongue a sua juventude e viva a longevidade com saúde”. Curiosamente meu pai também era adepto da vida e alimentação saudável e após sua aposentadoria formou-se em medicina natural. Agradeço em especial a presença do Sr. Hans Kress, irmão de meu antecessor e espero fazer jus à cadeira que agora passo a ocupar bem como à memória de seu irmão.
Por fim, lembro que quando Ayrton Senna Faleceu em 01 de maio de 1994 comoveu o país e milhões de pessoas acompanharam seu funeral e seu enterro ocorrido no dia 05 de maio. O mesmo dia em que discretamente faleceu Mario Quintana, cuja morte rendeu poucas linhas e comoção. Como em seu Poeminho do Contra: “Eles passarão… Eu passarinho!”.
Posso afirmar com orgulho que ser escolhido para ingressar na Academia Joinvilense de Letras é mais uma etapa de uma carreira construída com muito labor e dedicação e agradeço a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para este momento.
Neste breve tempo de fala previsto no cerimonial trouxe pequenos momentos que através de palavras podem refletir grandes histórias e emoções. Fundamentalmente o uso das letras para representar a vida. Em essência a literatura: a arte da palavra.
Muito obrigado a todos!
Nielson Modro