Gourmandises no Sermão da Montanha
Quando o concluiu, abriu e arregalou os olhos. Estivera em verdadeiro êxtase e não notara para quantos falara aquelas palavras eternas. Assustou-se. Os últimos raios do sol poente, que se escondia no horizonte, eram lindos espelhado no Lago de Nazaré, e o dia começava a refrescar com a proximidade da noite
– André, como vamos dar de comer a esta gente toda? Quantos são? E o que temos para o passadio?
-Cinco mil mais ou menos. Verei, Mestre, verei o que pode aviar para a janta ou, ao menos, para o lanche.
E voltou com a notícia :
-Cinco peixes e dois pães. Um menino previdente os trouxe, numa cestinha. Só! Estão, aqui. E os exibiu.
-Só? Achas pouco? Traz para mim. Pelo menos vou abençoar e será o que Deus quiser. O pouco com o Pai é muito. O muito sem Ele, é nada. Todos os dias a multidão aumenta. Temos de ser mais precavidos, sempre ter algo a oferecer. Uma falta imperdoável. Agenda, Judas, és o tesoureiro da campanha. Quem convida sempre arca com o banquete.
Tomou os peixes e os pães, olhou para o céu e os abençoou.
– Distribuam – ordenou aos apóstolos.
Foi o ágape.
Todos se serviram com parcimônia, mas satisfizeram, razoavelmente, a fome.
Então, Jesus perguntou aos apóstolos:
-Sobrou? Recolham os sobejos. Talvez precisemos deles mais tarde ou em outra oportunidade, quando nos reunamos. É gratificante este povo todo ouvindo. Tomara que hajam entendido e pratiquem o sermão. Pus muita sabedoria nele. Estava inspirado. Verdades duradouras. Depois, vamos reunir e discuti-las para serem pregadas por toda a parte. Por vocês. Talvez eu nem esteja mais aqui. Todos ficaram satisfeitos com os pãezinhos e os peixinhos, Simão?
– Menos aqueles três, que estão, ali, fofocando.
– Fofocando? Mas o que estão dizendo ?
– Aquele mais alto e magro com as bochechas vermelhas disse que foi duro engolir o pão sem vinho, pensou que haveria um “répiaur”, esperava a repetição de Canaan; estava nas Bodas. E tomou um pifão daquele vinho especial, que ele considerou muito aguado… Aquele baixinho, de lábios e orelhas grossas, disse para quem o quisesse ouvir que não estava acostumado a comer pão sem manteiga; Soubesse, não tinha vindo. E aquele magro e alto reclamou, porque – onde já se viu? – não está acostumado a comer peixe sem óleo de oliva e alcaparra na manteiga.