Harmonia-Lyra – Discurso bem-humorado proferido em 1930 marca festa da cumeeira (Maria Cristina Dias)

 

Harmonia-Lyra – Discurso bem-humorado proferido em 1930 marca festa da cumeeira

Maria Cristina Dias

 

O dia 24 de maio é uma data especial para a Sociedade Harmonia-Lyra, de Joinville (SC). Neste dia, em 1930, era realizada a festa da cumeeira do novo prédio, na rua 15 de Novembro – um marco da concretização do sonho de ter a sede própria. Naquela data, o mestre-carpinteiro Höpfner proferiu um discurso bem-humorado, onde lembrou a vocação para as artes que marcaria o prédio e levantou um brinde a todos os que estavam participando daquele momento.

A tradução do discurso, feita por Maria Thereza Boebel, pertencia ao acervo de sua mãe, Jutta Hagemann. Confira na íntegra e conheça um pouco das histórias da Harmonia-Lyra, que em 2023 celebra 165 anos de fundação:

 

Discurso do mestre carpinteiro Höpfner por ocasião da festa de cumeeira do prédio da Harmonia-Lyra, em 24 de maio de 1930.

Tradução: Maria Thereza Boebel

 

Cá estou eu nas alturas,

e todos olham e ouvem

o que vou dizer em honra

à coroa de flores e fitas,

pois este não é um prédio como aqueles

que se encontra em qualquer lugar.

É destinado àquela arte

que se eleva das graças supremas.

Por isto, se é do agrado, ouçam o que tenho a dizer.

De marceneiro, que sou

fizeram-me hoje um orador.

Diz-se que, quando Deus entrega

uma missão a alguém,

dá-lhe também a necessária inteligência.

Isto vocês bem sabem,

se é verdade ou não,

não cabe a mim prová-lo.

E se isto se confirmar hoje em mim,

penso cá comigo,

deve ser por que daqui por diante

nesta casa os bemóis e sustenidos,

deverão ser cantados e falados.

Isto logo me contagiou

despertando em mim a vontade

de ocupar este lugar, chegando

assim à frente dos outros.

Aqueles chamados os senhores atores,

são a Câmara dos Comuns,

pois os senhores os verão do futuro,

lá embaixo, no palco.

Eu falo aqui de cima, do telhado,

representando assim a Câmara dos Lordes.

Por isto, pouco me importa

o que se diz na Câmara dos Comuns.

Falo aqui para mim sozinho,

Nenhum souffleur precisa me sussurrar

O que quero dizer a vocês.

Ouçam, portanto, em silêncio,

para que não se perca nenhuma palavra

do que vou dizer aqui de cima!

A casa aqui construída,

da qual vocês veem a coroa e a lira,

foi construída para que no futuro,

possam ver o que já citei.

Mas lembrem-se que além disso,

vai haver muito mais para ver e ouvir.

Aqui vai haver teatro, ópera,

tragédias populares e comédias

burlescas. Vez ou outra um balé.

De tudo um pouco, cabendo a cada um,

escolher aquilo que lhe apraz ver.

Por isto, vocês podem cada vez

escolher a sua livre vontade.

Se a tragédia lhes é monótona,

vão ao musical, com canções.

Se o drama não lhes apraz,

venham, quando houver uma comédia.

E quem não quiser ver isto também,

que vá à ópera, então.

Mas quando acontecer, um dia,

que lhes chegue às mãos um programa,

e ali disser que vai haver um balé,

entrem, então, pois isto bonito é.

Ali também a dança se apresenta,

no mais belo esplendor, no maior brilho.

Desejo que sempre

fiquem satisfeitos com tudo

que haverão de ver nesta casa.

Que, quando uma peça chegar ao fim,

vocês aplaudam de pronto, com prazer

sejam sempre simpáticos à arte, aos artistas,

eles lhes trazem à vida.

Em troca, portanto, alegrem

a vida deles, também.

Queria, ainda, desejar

às futuras direções, por seu esforço, muito sucesso,

que entre no caixa, dai a dia,

tanto quanto encontrar lugar,

e que também ninguém diga,

que não cumpro com meu dever.

O costume e bons modos pedem

que agradeçamos a Deus,

que nos tomou em sua proteção,

para que nenhum mal nos acontecesse.

Que dê sucesso a esta construção

e ainda afaste tudo

que possa lhe trazer algum prejuízo.

Os próximos encômios cabem

à louvável comissão de construção,

que de modo sábio e fiel, concluiu a obra,

por isto, levantem um brinde a ela.

Agora é a vez dos mestres,

quem dera que eu não estivesse entre eles,

pois não é fino elogiar-se a si mesmo.

Por isto desejo que o ditado se confirme,

e que aqui a obra elogie o mestre.

Por isto, observem, se é assim.

Mas aqueles, que cedo e tarde,

trabalharam na obra, com afinco e esforço,

a todos ajudantes ergamos um brinde, pois.

E finalmente a todos que ali estão,

vendo com alegria esta construção,

desejo que sempre estejam bem,

visitem logo esta casa,

com alegria e aplausos,

pois isto anima todos os artistas,

e com isto, ponto final. Assim está bem.

 

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